terça-feira, 29 de outubro de 2013

Trabalho Infantil - Coluna

                                



Assisti a uma reportagem sobre a mão de obra de infantil, principalmente nas regiões mais carentes do país.
Crianças trabalhando em fornos de carvão vegetal, crianças entrando em rios, mares e mangues de madrugada à cata/pesca de mariscos, caranguejos e esses bichos estranhos.
São pescados pelos adultos e pelos irmãos ou parentes mais velhos e a criançada, cuja idade varia entre sete e doze anos, ajuda com a limpeza, a separar a carne da concha etc, a embalar etc...
Depois de tudo pronto, essas embalagens com um ou dois quilos de marisco, são vendidas aos restaurantes chiques por menos de dois reais o pacote!
Os restaurantes chiques preparam pratos chiques, como nomes em francês e cobram valores bem mais elevados aos turistas endinheirados e encantados com as belezas naturais do local.
Outro dado levantado por médicos e pesquisadores foi a saúde dessas crianças que passam horas trabalhando sentadas em um posição desconfortável, ou carregando peso e forçando suas frágeis colunas.
Foi perguntado às mães se elas concordam com esse tipo de vida que os filhos levam e elas responderam que é melhor assim a deixar que fiquem perambulando pelas ruas e sendo mais uma vítima fácil de pedofilia e drogas.
E vão para escola?
Sim, mas voltam logo porque faltam professores.
Algumas vezes não têm merenda também.
Fiquei pensando nisso enquanto procurava motivos, razões que explicassem porque tenho uma coluna podre, dolorida, fraca...
Fui ao consultório de uma ortopedista "seca", grosseira, impaciente, curta e grossa. Ela mal passou os olhos pelos exames e disse: "Você pratica ou praticou esporte durante muito tempo? Sua coluna é de uma pessoa assim e não há o que fazer".
Puxa, legal ouvir isso de uma médica!
Estou habituada a carregar peso desde muito pequena. Já aos cinco ou seis anos eu ajudava a cuidar dos meus irmãos menores, ajudava mamãe a lavar roupas, carregava meu irmão caçula nos braços e o levava para pesar, medir, tomar vacina e pegar as sagradas seis latas de leite em pó que o posto distribuía mensalmente para os bebês e crianças.
Eu era uma criança magérrima de onze anos e carregava meu irmão grandão que nascera com quase cinco quilos! Isso somados à sacola com fraldas, mamadeiras e as latas de leite. Sem contar que aguardava em pé o busão por mais de trinta, quarenta minutos.
Lembro que tinha muitas dores de cabeça e aos doze anos comecei a ter dores na coluna. 
Não era para menos. Lavar roupas, carregar compras do mercado e da feira, carregar o irmão nos braços... Realmente não há coluna que resista.
Aos trinta anos descubro-me hipertensa e com as dores na coluna cada vez mais fortes. Comecei a tomar anti-hipertensivos (não sei se é com ou sem hífen; detesto esse novo acordo ortográfico) e remédios para controlar as dores lombares.
Aos quarenta anos descubro-me acromegálica. Que raio de doença é essa? Quais sintomas, tratamento, o que ela causa, tem cura?
Passaram milhões de perguntas por minha cabeça.
Chegou o momento de fazer a cirurgia da coluna; não dava mais para enganar as dores com remédios e a disfarçar o entrevamento e a dificuldade para caminhar.
Fiz a cirurgia em maio de 2009 e fiquei até que boa, mas dois anos depois os mesmos velhos sintomas, dores e entrevamentos voltaram.
Mas por que em tão pouco tempo? Conversei com outros pacientes que fizeram cirurgias similares à minha e estão muito bem, obrigado, com seus parafusos no lugar e sem dores ou qualquer outro problema por mais dez, quinze e até vinte anos.
Por que eu não?
Doença degenerativa da coluna associada à Acromegalia.
E os pesos pesados que carreguei durante a infância e adolescência, contam também?
Sim. 
"Si" ferrei!
Osteoartrite (artrose e artrite) pelos joelhos inchados e gorduchos e até nos pés, mãos, ombros, quadris, coluna.
Claro, a doença viria. Já estava lá, se manifestando, mas teve uma "mãozinha" de todo o trabalho pesado que tive durante a infância e adolescência.
É o que a gente ganha por achar que pode carregar o mundo nas costas. Literalmente.
Outra coisa: Criança não é adulto! Criança pode ajudar com pequenos afazeres domésticos como arrumar o próprio quarto, guardar os brinquedos e coisas leves assim. 
Criança não foi feita para carregar peso, para cuidar de casa, de irmão pequeno. Isso é obrigação dos pais.
Mateo que o pariu, Mateo que balance!
Nunca pari nenhum, mas balancei muitos.
É isso.



                                     







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