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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Outubro

                              Resultado de imagem para dia das bruxas



Fiz mais exames e dessa vez tive mais dificuldade. Não consegui ficar de pé e solta para fazer o Raio X da coluna e o técnico teve que me ajudar.
Fiquei exposta ao ar geladíssimo do ar condicionado e as "ites" pioraram. Quem inventou ar condicionado?!
Fiz tomografia computadorizada da coluna também. Todos os exames serão levados para o Grupo de Coluna e espero que até o fim do ano essa bendita cirurgia seja feita.
Já estamos no final do ano. Outubro, mês das crianças, de Nossa Senhora Aparecida, do Descobrimento da América, Dia dos Professores e Dia das Bruxas. Acho que me encaixo em quase todas as categorias.
Fiquei dolorida e entrevada e tive muita dificuldade para andar; fiquei triste também.
O que foi que eu fiz?
Segurei as lágrimas, as "ites" ajudaram a disfarçar e atribuí os olhos marejados aos efeitos nocivos do ar condicionado.
Não é fácil não. Finjo ser normal, digo que está tudo bem, mas Deus conhece a árdua batalha que travo aqui dentro.
Ser normal também não tarefa fácil.
Tem hora que dá raiva, revolta e um turbilhão de emoções me invade. Uma fúria também.
Por que Deus permite isso? Por que uma pessoa que nunca fez mal a nada ou a ninguém não pode ter o sagrado direito à saúde, a viver uma vida simples e normal como eu vivia?
Imperfeições, falhas e pecados, quem nãos os tem? Impaciência é pecado? Pegar mudinha de plantas pelas caminhadas que eu fazia é pecado? Pegar livros jogados no lixo ou deixados de propósito sobre as mesas pelos alunos é pecado?
Tirar girinos da poça d'água e colocá-los na caixa d'água lá de casa é pecado?
Colocar as flores de mamãe no túmulo da gata é pecado?
Essas são as coisas mais "erradas" que fiz e me lembro e acho que não merecem uma punição tão grave assim.
Tento fazer graça para que o peso das dores e dos problemas não me sufoquem.
Estou preocupada e ansiosa.
Vou aproveitar o dia. Tem tanto o que fazer, ler, ver, viver...
É isso.



                                      Resultado de imagem para bruxas lendo livros

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Transbordar

                             Resultado de imagem para transbordar em lágrimas



Uma semana sem escrever.
Dores incapacitantes, entrevamento, vômitos, desânimo, medo, solidão...
Lembrei da médica maluca que certa vez disse: "Se você não se cuidar, não vai chegar aos cinquenta!". Eu ainda não tinha quarenta anos.
Cheguei a pensar, sozinha numa madrugada fria e com muita dor: "Tomara que ela esteja certa e que não demore muito; que seja breve".
Tantos tratamentos, internações e cirurgias; tanto vai e vem a laboratórios e consultórios, tanto remédio para quê? Do que adiantou tudo isso se continuo a sofrer, a doer e a ter minha vida e liberdade roubadas pela Acromegalia e suas consequências e uma coluna doente? Táxi pra lá e pra cá; haja dinheiro.
Não é fácil não.
Madrugada gélida, pernas e pés gelados que não esquentavam nem mesmo com camadas de cobertores e edredons; até ficou meio pesado. Viro para todos os lados, procuro uma posição confortável e que acomode joelhos que doem, coluna que dói, ouvidos que doem, cabeça que dói, alma que dói...
Por que, meu Deus do céu?! Que castigo é esse?! Tu tá de mal comigo? Qual é, meu irmão?!
A dor me segurou, me invadiu e transbordei em lágrimas. Sou humana, demasiado humana.
Peraí! Tristeza, por favor, vá embora. Saia desse corpo que não te pertence!
Dia amanhecendo, cachorrada latindo, motores dos caminhões sendo aquecidos, as vozes dando bom dia, o poc poc dos sapatos de salto alto das moças trabalhoras e vaidosas. Adorava salto alto.
Levanto, faço café, mas não consigo tomar tudo; estou há alguns dias assim: comendo pouco, colocando pra fora a maior parte, sofrendo com as dores.
Comecei a melhorar depois do transbordamento lacrimal; chorar é preciso.
E o dia seguiu bonito e gelado.
É isso.



                                      Resultado de imagem para orvalho

terça-feira, 25 de março de 2014

Mãe

                               



Todos os dias mães de alunos são chamadas para conversar com a coordenação e/ou direção sobre o comportamento dos filhos/alunos; é praxe.
Alunos que não respeitam professores, inspetores e nem a própria mãe.
Hoje cedo ouço a conversa do coordenador com o aluno e a mãe que se debulhava em lágrimas; o filho não quer saber de nada, não tem perspectiva de vida, não "está nem aí" para nada.
O coordenador falava, orientava e tentava ajudar da melhor forma possível, mas lidar com adolescentes rebeldes que acham que o mundo está errado e eles certos, não é tarefa das mais fáceis.
A mãe dizia que fazia o possível, dentro de suas parcas possibilidades, para que o filho tivesse o melhor. O menino não trabalha, só "estuda", tem boas roupas e calçados e ainda assim reclama. 
É um adolescente bonito, um menino com lindos olhos claros. Pelo menos nesse aspecto, a vida favoreceu-lhe. 
Vivemos na Sociedade da beleza, da preocupação extrema e obsessiva com a aparência.
A mãe não parava de chorar e o filho não se importava com a situação, estava preso e amedrontado em seu mundo ainda confuso.
A rebeldia são o medo e a fraqueza disfarçados.
Pedi licença e a atenção do menino por um momento. Ele me voltou seus lindos olhos claros e eu falei: "Completei quarenta e sete anos sábado passado e espero completar mais quarenta e sete. Estou na minha segunda vida e agradeço todos os dias por estar viva. Você sabe o que é ficar entre a vida e a morte? Você é um menino bonito, saudável, tem tudo pela frente, só depende de você. Você pode andar sem ajuda de bengala, pode correr e eu não. Você tem coluna e ossos bons, eu não... Desejo que você seja feliz".
Voltei ao trabalho e as horas passaram.
Levo documentos para o diretor assinar e vejo o menino de lindos olhos claros brincando e sorrindo. 
Que a vida possa lhe mostrar o quão valiosa e importante ela é.
É isso.


                          
                                      

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Na ativa

                            



Volto à ativa depois de um tempo meio parada.
Fui à clínica, tomei as injeções, falei com o médico, peguei mais um laudo, levei para escola, fui ao banco para pagar as contas e, como era de se esperar, sobrou conta e faltou dinheiro, graças a Deus.
Voltei para casa, liguei para o Estadão; não recebi os jornais de ontem e de hoje. Serão entregues, disse a simpática atendente.
Beleza.
Os efeitos das injeções começam a se manifestar: sono, moleza, cansaço e ânsia de vômito. 
Já tomei bastante água. Aliás, o que mais tem espalhadas pela casa e pelo carro são garrafas d'água. Adoro água, sou a Maria das Águas e não à toa nasci no dia 22 de março, o Dia Mundia da Água.
Encontrei o coordenador pedagógico quando chegava à escola, muito simpático. Falei com o diretor, entreguei o laudo para a secretária, fui abraçada pela inspetora de alunos e fui cumprimentada por alguns dos danadinhos. Saudades...
Vontade louca de subir aquelas escadas, entrar em uma sala de aula, responder às mesmas perguntas de sempre, desde que aluno é aluno e professor é professor: "É pra copiar?... Vai valer nota? Que dia é hoje? É para fazer em dupla? Pode ser dupla de três? Por que a senhora nunca falta?"
E por aí vai...
Mas a senhora aqui tem faltado muito, tem sido afastada muito, tem problemas de saúde muitos, causados por uma doença rara de múltiplas facetas.
Derrubei algumas lágrimas externas; disfarcei.
Desabei por dentro, levantei os olhos aos céus e perguntei: "Deus, por que tu tá fazendo isso comigo, mano?"
Deus é brasileiro, paulistano e corinthiano. 
É nóis.
Senti-me só. Tão só.
Pego o telefone, procuro alguns nomes na agenda, os mais próximos. Estão desligados, fora de área, na caixa postal...
Queria ouvir uma voz, apenas dizer alô, dizer que está tudo bem, falar sobre o tempo, as chuvas, alguma coisa, qualquer coisa.
Consegui falar com meu irmão caçula, que é muito rápido e prático, pelo menos comigo: "Tá tudo bem?... Tá... Então tá bom..."
Deveria ir ao supermercado, mas não deu. Não tenho condições, estou mole, cansada...
Volto para casa, desço para abrir o portão, sou recebida pelo meu séquito felino. Minha terrível Aurora vem na frente, claro. Senta-se em meu colo, me faz um chamego, senta-se no banco do carona enquanto guardo o carro.
Entro em casa, encontro meu negão lindo moído, cansado, sonolento. Não tem jeito, por mais eu fale, peça, ameace botar de castigo, meu neguinho lindo é marrudo por natureza.
Vou deitar um pouco, minha cabeça dói.
Minha alma também.
É isso.



                                   

quarta-feira, 13 de março de 2013

(A)Normalidade... Olhares

                                


Eu sempre procuro manter uma certa normalidade, mas está difícil.
As pessoas olham para mim, param por um segundo e olham de novo, como quem diz: "Será que vi direito? É isso mesmo?"
Estava no estacionamento do banco conferindo o que seria pago ali e sinto e vejo os olhares sobre mim. Alguns disfarçam, outros encaram mesmo. 
Isso dói. 
Procuro parecer normal, fingir que está tudo bem, mas seguro as lágrimas; ou tento.
Sou humana, demasiado humana. Não sou apenas acromegálica, Acromegalia não define quem eu sou.
Vejo moças, mulheres e senhoras bonitas ou bonitonas, entrando e saindo do banco e observo suas roupas, sapatos, cabelo e rosto.
Nem todas são exemplos de uma beleza estonteante, mas todas têm rostos normais e pés normais.
Vejo uma moça magrinha com cabelão parecido com a da princesa ruivinha do filme Valente. Ela usava sapatos lindos, tipo boneca. Lembrei que já tive um par assim.
Outra moça elegantemente vestida mas com os cabelos excessivamente e exageradamente loiros; vulgar. 
Acho que não precisa tanto para chamar a atenção e forçar uma beleza que acaba se transformando em um padrão: todas e todos iguais.
Uma senhora elegantemente vestida; lenço sobre a camisa branca bonita, óculos de grife. Adoro camisa branca.
Mas gosto mesmo de observar o rosto e os pés, mais precisamente os sapatos.
Eu nunca fui bonita, mas já tive rosto e pés normais.
Maldita Acromegalia.
É isso.



                                 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Cássio Antônio

                             


Sexta-feira à noite recebo uma mensagem de um conhecido falando sobre uma gatinha abandonada que seguiu a sua namorada até em casa. A suposta gatinha tinha frio, fome, estava molhada pela chuva e tinha sinais de abuso. Algum infame, nojento, filho duma égua manca, sem Jesus no coração queimou o bigodinho do pobre felino.
Eu respondi-lhe dizendo que já tenho seis gatos e não estou segura quanto ao nosso futuro residencial. Disse-lhe que procurasse outras pessoas, quem sabe não encontraria alguém bacana, simpática, meiga e gentil, humilde e amante de animais como eu. Ele tentou.
Isso era umas oito horas da noite, fiz minhas coisas e lá pelas dez fui para cama. Li até as duas da manhã e depois adormeci. Às sete da manhã o celular toca e era meu conhecido desesperado dizendo que o pai da namorada havia dado um ultimato: ou arrumava um lugar para a gatinha ou a colocaria na rua de novo! A moça se debulhou em lágrimas e pediu ao namorado para me procurar. Precisavam chegar aqui cedo e retornar para casa até as dez horas, pois o pai dela usaria o carro que emprestou para que trouxessem a gatinha.
Pediram mil desculpas pelo transtorno, choraram e eu disse que podiam ficar sossegados, eu cuidaria do bichano e procuraria alguém que o quisesse.
Foram embora mais aliviados e eu preparei um cantinho para a dita gatinha. Resolvi conferir se ela era fêmea e vi que não, é um gatinho. Se fosse gata receberia o nome de Azaleia Cássia ou Cassiopeia, mas como é gatinho, dei-lhe o nome de Cássio Antônio.
Cássio em homenagem ao goleiro do Corinthians e Antônio em homenagem ao meu bisavô Antônio Francisco.
Ontem ele estava tímido e assustado mas hoje pela manhã já ganhou confiança e brincou com as plantas, "atacou" a árvore de Natal, dormiu no meu colo, pediu carinho e agora dorme sobre a almofada de Branca Maria.
Cássio Antônio é amoroso, dengoso, charmoso, brincalhão e muito lindo, claro.
Obviamente já ouvi sermões sobre a quantidade de gatos, que custa caro manter tanto gato, que isso que aquilo.
Eu o ofereci ao vizinho, que o achou lindo, mas o problema é que ele está com uma gata e quatro gatinhos.
Complicou.
Minha gataiada está toda enciumada e só Ébano Nêgo Lindo que tenta uma aproximação. Ébano é muito meigo, dócil, charmoso e lindo.
Todo mundo aqui é lindo.
Cássio Antônio é preto e branco, as cores do Poderoso Timão.
Estou preocupada, minha Nossa Senhora!
Cássio Antônio dorme agora.

                                 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Águas e Lágrimas

                                


Deitei-me no sofá com Ébano Nêgo Lindo, que dorme sempre ao meu lado e com a patinha preta, fofa, peluda e macia em minha mão.
Tentava assistir aos programas vespertinos, mas não tinha nada que me apetecesse, acabei dormindo.
Sonhei com papai, mamãe, meu cunhado Pepê e os irmãos e irmãs. Estávamos em um táxi voltando para casa quando mamãe pede para o motorista parar; ela queria ver uma bica d'água que ficava em um lugar bem rústico e bonito. Era um lugar de terra vermelha e com muitas árvores em volta e havia duas bicas d'água.
Uma das bicas tinha água pura e cristalina e a outra tinha uma água barrenta; mamãe bebia da água barrenta e eu a reprimia: "Mãe, essa água é suja!". Eu bebia da água cristalina embora mamãe tentasse me convencer a beber a água barrenta, mas a água que bebi tinha um gosto ruim e por isso só tomei dois goles.
Saímos do local e paramos em uma capela, mas papai e Pepê não quiseram entrar e meu irmão Naldão fora comprar um doce borrachudo junto com meu sobrinho Vinicius.
Entrávamos na capela e ali era uma sala de aula com pessoas fazendo artesanato. Tinha peças de barro e eu ficava encantada com a habilidade e o dom artístico daquelas pessoas.
Invejo, no bom sentido, quem tem talento para desenhar, pintar, cantar, dançar e outras expressões artísticas.
Acordei com o telefone tocando e depois fiquei meio encucada com as águas do sonho. Dizem os mais evoluídos que sonhar com água barrenta é bom mas sonhar com água limpa não é, significa lágrimas.
Minha Nossa Senhora, mais lágrimas?!
Já não sei quantas lágrimas derramei e peço a Deus que de agora em diante as derrame por motivo de alegria.
Amém.

                                  
                          

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Finados

                                 

Hoje é dia de todos os santos e amanhã será dia de finados.
Dizem que sempre chove no dia de finados... Eu acho que são as lágrimas daqueles que partiram e daqueles que continuam aqui.
Fez sol e um calor insuportável até ontem, mas hoje amanheceu chovendo e mais fresquinho.
A previsão para amanhã é de mais chuva e céu cinzento.
Peço a Deus paz para todos os que foram e esperança para todos os que ficaram.
Amém.

                              


                             
                            

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Portas

                                        

Estava muito cansada ontem; nem consegui assistir ao CQC. Achei também que o programa estava meio lento, assim como eu.
Antes disso, assisti ao filme "Mudança de Hábito", uma comédia dos anos 90 com a atriz Whoopi Goldberg e ri muito. 
Gosto de rever filmes mais antigos e reler livros lidos há algum tempo, parece que têm algo de novo, algo novo a dizer ou a mostrar.
Fui para a cama e peguei no sono até que rapidamente para meus padrões "insônicos", mas lá pelas duas da manhã tive que me levantar e ir ao banheiro. A gataiada me acompanha, sempre.
Levantei-me de novo às quatro da manhã e pensei que dormiria até às sete, mas me enganei; acordo com vozes que conversam animadamente e isso às cinco e meio da manhã! Era o casal de vizinhos que falam pelos cotovelos, falam alto pra caramba e ouvem música ruim em alto volume. Valha-me Deus!
Detesto ser acordada bruscamente, e me pergunto: "O que madoscachorro esse povo tem tanto pra falar às cinco e meia da manhã?!"
Nesse sono interrompido tive alguns sonhos, algumas visitas.
Sonhei com minha falecida prima Marinês e no sonho ela dirigia uma Perua que nos levava até Pernambuco. Dias antes sonhei com papai caminhando comigo por caminhos tortuosos e eu estava muito apreensiva; vi rios com corredeiras de águas claras e azuis e eu dizia a papai: "Quero chorar mais não, pai. Chega de lágrimas".
Papai andava ao meu lado e paramos em um local muito parecido á região montanhosa da Fazenda Taquari onde nasci, papai dizia: "Essa é a sua terra".
Depois sonhei com minha avó Mãevelha e eu secava seus cabelos compridos e branquinho-azulados com o secador. Mãevelha tinha umas bochechas fofinhas e gostosas de beijar.
Alguém entrava no quarto onde estávamos e dizia que eu ainda tinha uma avó para cuidar, mas eu sabia que Mãevelha já havia partido há mais de vinte anos. 
Depois de secar os cabelos de minha avó eu começava a secar os cabelos de uma menina de uns quatro ou cinco anos e ela tinha cabelos encaracolados, meio acobreados, cabelo de gente galega.
Depois percebi que aquela menina era eu.
Quem consegue entender e explicar o tempo das coisas, dos sonhos, da vida?
Eu fui galeguinha até os cinco ou seis anos e depois fui ficando mais morena. Morena clara.
Adorei as visitas de papai, Mãevelha, minha prima Marinês e de outras pessoas que fizeram (fazem?) parte da minha vida e da minha História.
Estou tentando entender o significado de suas presenças; talvez até saiba.
Mas o chato é que sempre acordo angustiada, assustada às vezes, pois quero entender o que meu povo quer me dizer e quero que fiquem mais tempo. Mas eles não podem e eu também não posso; cada coisa a seu tempo.
Um dia pensava comigo sobre a possibilidade de haver uma porta mágica que se abrisse e nos permitisse entrar na casa daqueles entes queridos que já se foram ou permitir que eles nos visitasse mais e demoradamente. Mas Deus e o Povo lá de cima sabem o que fazem e bem sabem que se eu entrasse por essa porta e encontrasse meu Paipreto, meu avô José e todo meu povo querido e eu fosse criança de novo eu não quereria sair de lá de jeito maneira jeito qualidade.
É melhor assim; visitas rápidas. Já dou trabalho e acordo chorando quando sonho com meu povo, imagine se eu pudesse vê-los sempre que quisesse?! Daria certo não.
Agradeço por suas visitas e peço a Deus que os permita sempre me visitar e que os cubra de Luz, Paz e que eles fiquem sempre bem. E eu também, meu Deus.
Amem.

                                    




sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Pétala

                                    

Ouvia Djavan, adoro.
Ouvia "Pétala", minha favorita.
Somou-se a preocupação como o gato abandonado à minha coleção de minhocas e parafusos soltos, e pronto! Me debulhei em lágrimas, como dizia mamãe.
"Oxe, mas que choradô todo é esse? O que se assucede, minha flor de maracujá?", diria meu Paipreto.
Adoro a flor de maracujá, é a mais bonita de todas.
Adoro margaridas, cravos, cravinas, flores do campo... todas as flores.
Eu ia comprar uma "Quaresmeira" carregadinha de flores brancas, roxas, rosas, lilás, mas era pesada para eu trazer.
Vou "roubar" um galho da Quaresmeira do vizinho.
Pétala...



                                          

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Forte

                                             

Fiz mais exames e farei mais amanhã.
Fui aos consultórios do neurocirurgião, gastroenterologista e ortopedista.
O bicho pegando.
Há exatamente um ano comecei a ter problemas nos ossos e juntas: artrite, artrose, osteoartrite sistêmica (pelo corpo todo).
Segundo os médicos, o "normal" seria tudo isso iniciar agora, nos meus quarenta e cinco anos, e progredir lentamente e lá pelos sessenta ou setenta anos começar de fato a apresentar os sintomas mais graves. Mas tudo foi e está sendo precoce e muito rápido e isso é devido à minha doença de base, a Acromegalia.
Em maio do ano passado fui ao ortopedista com uma dor no pé esquerdo e desde então tenho retornado para mais exames, remédios, injeções no joelho e diagnósticos desagradáveis.
Estou meio chateada.
Estou me entrevando. Está difícil subir escadas sem apoio, sem corrimão. Está difícil levantar quando fico algum tempo sentada e/ou dirigindo, parece que tem um peso enorme puxando meu corpo e minhas pernas para baixo. Uso minha bengala e isso me ajuda a ter alguma estabilidade; tenho medo de cair, de ser empurrada por pessoas apressadas nessa e dessa Pauliceia Desvairada.
Relatei ao neurocirurgião meus problemas ósseos e o que disse e vem dizendo o ortopedista, e ele, o neuro, disse que essa evolução rápida é devido ao tumor que está em atividade. Ele pegou uma folha de papel e fez um desenho, simbolizando meu tumor e a área em que está. Ele disse que a Radiocirurgia feita em setembro de 2010 ainda faz efeito mas que se os exames de sangue mostrarem um número alto do GH (Growth Hormone - Hormônio do Crescimento) há a possibilidade de um novo procedimento, tanto radiológico quanto cirúrgico. Tudo depende da atividade e do tamanho do tumor e rezemos para que ele não cresça e não ultrapasse a barreira de segurança imposta pela radiação e pelo Sandostatin - LAR. Aliás, vou tomar mais uma dose na semana que vem.
Saí do consultório muito triste e até derramei umas lágrimas enquanto seguia pela Avenida Vinte e Três de Maio sempre congestionada, graças a Deus.
Mas eu disse ao neurocirurgião que o tumor não vai crescer e que faço uma nova Radiocirurgia numa boa, mas cirurgia convencional não faço de jeito maneira, jeito qualidade!
Tenho medo, pavor, angústia. 
Lembrar que fiquei em coma, lembrar do que vi e pelo o que passei no coma. 
Não, pelo amor de Deus, não!
Quero isso não.
Ainda tentei brincar para afastar a angústia: "Faço Radiocirurgia, DVDcirurgia, CDcirurgia, mas cirurgia convencional não!"
A gastroenterologista pediu vários exames: ultrassom de abdome, endoscopia, colonoscopia e biópsia caso necessário. Pediu também exames de sangue e de intolerância à lactose. Meu estômago tem doído muito nos últimos meses. Dor mesmo! Parece que tem um bicho se contorcendo enquanto me devora por dentro; é essa a sensação.
A Acromegalia piora o que já é ruim e além dos problemas ósseos também afeta estômago e a região intestinal (pólipos). Eu sempre tive uma péssima digestão e tive uma forte intolerância à lactose quando criança. 
A Acromegalia não se contenta em ficar só no tumor localizado lá num cantinho do cérebro, não. A Acromegalia estraga tudo, piora o que é ruim, intensifica problemas existentes... Doença do cacete!
Não, não bastavam as mazelas internas e as mudanças externas que deixam os ignorantes me olhando como se eu fosse de outro planeta, a Acromegalia quer mais.
Sou forte, sou guerreira e a Acromegalia não vai tirar essa força de mim. Não vai mesmo!
Já comi toucinho com mais cabelo, como dizia mamãe.
Sou mameluco
Sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco
Sou Leão do Norte

                                        




domingo, 17 de junho de 2012

Dias Melhores Virão

                                         


Aguardava.
Tomava um café expresso forte e quente, do jeito que eu gosto, enquanto aguardava. No alto falante perto de mim tocavam insuportáveis músicas de balada: "tum tum, pow, pow, putz, putz..." É a mesma melodia monótona, chata e repetitiva e que faz doer a cabeça.
Comentei com a pessoa que me atendia: "Realmente, esse tipo de música vem bem a calhar para o momento, local e razão". Mais alguns minutos e começou a tocar músicas dos anos 80 e 90, muito melhor.
Depois tocaram músicas dos anos 60, Bossa Nova, MPB e finalizaram com Heavy Metal, tudo a ver!
A espera foi grande e por isso pude ouvir as variedade musicais e reclamar e criticar, claro.
Tocou "Primeiros Erros" de Kiko Zambianchi e "Lanterna dos Afogados" dos Paralamas.
Mamãe gostava de "Primeiros Erros". Saudades.
"Lanterna dos Afogados" me lembra mamãe em um momento de muita dor, desespero, revolta e tristeza. Era o sábado, cinco de maio e recebo o telefonema de minha irmã Rosi dizendo que mamãe havia morrido. Ligo para a agência de turismo para comprar uma passagem para São Paulo e enquanto aguardo, sou colocada na espera e na rádio toca "Lanterna dos Afogados". Ouvi a música quase inteira e desde esse dia, sempre que a ouço, lembro-me de mamãe e daquele cinco de maio de 2001.
Fui tomada por fortes emoções e as lágrimas foram mais fortes e teimosas que eu; pude sentir a presença de mamãe perto de mim.
Meu Deus, que possa eu um dia chorar de alegria.
Possa mamãe descansar em paz, de verdade.
Que dias melhores venham.
Estão a caminho, mamãe trouxe alguns deles com ela hoje.
Amém.