quinta-feira, 28 de março de 2013

Vila

                               



Todos nós sonhamos, embora às vezes não nos lembremos do que sonhamos.
Eu tenho sonhos pesados, intensos, tensos e acontecem quando estou em um estágio de sono "meio dormindo e meio acordada".
É como se estivesse ao mesmo tempo do lado de dentro do sonho e do lado de fora. Sei lá.
Sonhei que estava em um vila de rua bem comprida e com várias casas simples. Em cada casa moravam pessoas diferentes; tinha casais, famílias maiores, pessoas sós etc...
As pessoas eram bem simpáticas e acolhedoras e eu conversava com elas do lado de fora, não queria entrar em suas casas.
De repente vejo um grupo vindo em minha direção e, ao se aproximar, sinto um certo desconforto. Eram médicos/as e enfermeiros/as.
Tento fugir deles e sou convidada por um casal a entrar em sua casa, mas assim que entro, tento voltar. Tive a impressão que aquilo era uma armadilha para me pegar e aquela casa que por fora parecia tão pequena e simples, era na verdade cheia de portas e corredores que levavam à uma espécie de hospital.
Corro pelos corredores e encontro mamãe que tenta me convencer a ficar e a acompanhar o grupo de médicos e enfermeiros, seria para meu bem, diz ela.
Mas eu não queria, eu tinha medo. Eu pensava nos meus gatos e perguntava se aquela internação forçada demoraria muito. Quanto tempo eu ficaria ali? O que fariam comigo?
Entro em uma sala onde há uma enfermeira preparando medicação e reparo na mesa de trabalho. Era uma mesa improvisada feita com gravetos, pedaços de madeira e coberta com um pano ou papel branco. Como um hospital pode trabalhar desse jeito? Essa mesa improvisada e estranha estaria limpa? Essa enfermeira higienizou as mãos e o material para aplicar o medicamento?
Que estranho.
Observo a tudo sentada enquanto a enfermeira, que está sempre de costas para mim, continua a manipular a medicação. 
Mamãe e um grande número de médicos e enfermeiros ficam à porta para assegurar que eu não fuja e para me convencer que preciso ficar ali sob os cuidados deles.
A enfermeira finalmente termina e se aproxima de mim com a injeção pronta para aplicar; entro em desespero, pois sinto que aquilo vai me fazer dormir.
O que farão comigo quando eu dormir? Para onde me levarão? Será que sairei daquele hospital estranho? E minha casa? Meus gatos? Minhas coisas? Como ficam?
Vejo mamãe e minha irmã Rosi e peço-lhes que digam à minha irmã caçula, Renata, que cuide dos meus gatos.
Sinto que não sairei dali tão cedo mas ao mesmo tempo sei que mamãe está ao meu lado e nunca deixaria que me fizessem mal.
Mas e se algo der errado e eu não puder voltar? Ficarei ali naquele hospital estranho? Naquela vila agradável de moradores sorridentes e simpáticos?
Quero não. Ainda não é hora não. 
Oxe, vôte! Como diria minha avó Mãevelha.
Entre os anos de 2009 e 2012 foram dezenas de internações e sete cirurgias, somando um total doloroso, física e emocionalmente doloroso.
A última cirurgia foi realizada em fevereiro de 2012, há pouco mais de um ano, e de lá pra cá tive apenas alguns episódios de pressão alta, além de tratar a artrose galopante nos ossos, principalmente no joelho direito.
Está bom assim, meu Deus.
Sem internações, sem hospitais, sem agulhas enfiadas por minhas veias, sem dor, sem desespero, sem uma vontade louca de sair dali e voltar para casa o mais rápido possível.
Tenho vários exames para fazer e faço aos poucos. Até daria para fazer muitos em um dia só, mas é muito doloroso e desgastante. E perigoso também, uma vez que vou quase sempre só ao laboratório e volto meio lesa, mais ainda.
Tenho receio que esse tumor volte a crescer e exija nova cirurgia. Quero não.
Deve haver outros métodos e os usarei, mas cirurgia não.
Sei lá, Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Que eu tenha saúde. Que eu obtenha a cura. Que eu tenha paz.
Amém.


                                 
                             



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