sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

U.T.I.

Eu finalmente fiz minha cirurgia de correção de fístula liquórica no dia 06/02/2012. Aguardei quase um ano para que fosse realizada; toda vez que o médico marcava uma data, algo acontecia. Eu pegava infecções, ficava hipertensa, não tinha vaga no hospital (ainda não há, na maioria das vezes), o médico viajava...
Mas chegou o grande dia. Fui.
Fui internada às 7hs e desci para fazer alguns exames. Sou levada pela enfermeira e aguardamos o elevador. No elevador ao lado vejo um funcionário da limpeza munido com seus apetrechos de trabalho e puxo conversa com ele. Dou um "bom dia" e iniciamos uma conversa. Ele me olha assustado, acho que não está acostumado a ser cumprimentado.
Percebo seu sotaque e pergunto de onde ele é e fico sabendo que é paraibano.
Ele diz que voltou da Paraíba há vinte dias; viajou de férias e viajou de avião pela primeira vez: "Olhe, é muito chique, viu? Pra cada lugar do passageiro tem um televisãozinha e a aeromoça dá um negócio pra botar no ouvido que é pra cada um escutar a televisão sem atrapalhar os outros. Depois a moça vem e dá comida e bebida pra gente. Muito chique mesmo, viu? Se a senhora for algum dia pra sua terra, vá de avião; é muito bom".
O elevador chega e partimos para nossas obrigações.
Tenho o hábito de cumprimentar a todos, sejam lá quais forem suas funções, posições. Ninguém é melhor ou pior que ninguém; cada um faz a sua história.
Bem...
Subo de volta para o quarto e me preparo para a cirurgia. Tem gente boa comigo e faço meus pedidos a Deus e ao Povo lá de cima. 
Acordo na U.T.I, mas acordo bem; dentro das possibilidades de se estar bem após uma cirurgia na região cerebral, bem próxima ao tumor. O problema é o desconforto, a dor, a agonia. O nariz tampado por uma gaze que absorve o resto de cirurgia, respirar ofegantemente pela boca, vias aéreas estreitadas pela Acromegalia, entubação difícil, pressão alta que não dá trégua, diabetes que sobe e desce igual a elevador de Shopping Center em época natalina, meu braço esquerdo inchado e temo por mais uma trombose, meus dedos furados para exames de destro (teste de diabetes). Meu Deus! 
Olho à minha volta e o enfermeiro vem cuidar de mim. Enquanto ele aplica os medicamentos e verifica os sinais vitais no monitor, observo os pacientes à minha frente e as imagens e memórias do meu coma me invadem. 
Medo, frio, solidão, desespero, agonia, culpa, rejeição, tentar provar que estavam todos errados a meu respeito; eu não era e nem tinha feito o que diziam. Eu era inocente, eu era uma boa pessoa. Mas ninguém acreditava em mim.
Mesmo estando em casa ou às vezes em outros locais, eu ainda sou invadida por essas memórias terríveis do meu coma. Me atormentam, me assustam, me preocupam. Meu Deus!
Havia no leito em frente ao meu uma senhora entubada e em coma; ela conseguia abrir os olhos algumas vezes e apertar a mão de seus familiares. Passei por isso e me deu uma agonia tremenda ver uma pessoa nessa mesma situação terrível pela qual passei.  Pedi mais uma vez a Deus e ao Povo lá de cima que cuidasse daquela paciente.
Eu adormecia na esperança de acordar no quarto ou em minha casa; não queria ficar ali.
Tanta tormenta, tortura e tristeza naquela U.T.I. 
Eu olhava para as lâmpadas no teto e lembrava das imagens, figuras e coisas horrendas que vi ou que me foram mostradas durante o coma. Eu tinha medo de fechar os olhos e dormir e ser ainda pior. Estava presa em meu próprio corpo e via as coisas como se estivesse vendo através de uma porta, como se assistisse TV; eu via tudo mas não podia interagir. 
Era um misto de sonho com realidade; estranho e assustador.
Já se passaram quase três anos, mas as imagens do coma ainda me assustam.
Mas...
Eu quero sair dali, quero ir para casa. Meus braços e meus dedos estão furados, picados por agulhas que não encontram minhas veias. 
Procuraram veias em meus braços e mãos e voltei para casa com marcas roxas de picadas de agulha. Uma veia foi estourada e estou ainda com um calombo roxo no braço. Acho que não poderão picar o local por algum tempo.
Voltei para casa, graças a Deus. Voltei meio grogue, sonolenta, dolorida.
Minha irmã Rosi me liga e meu cunhado Pepê sugere uma pizza. Adorei a sugestão.
Lá pelas 19hs chegam Rosi, Pepê, Renata e Beatriz, que está mais interessada em meus gatos do que em mim. Mas ela me trouxe um presente feito por ela mesma; uns papéis colados e desenhados por suas lindas e habilidosas mãos. Adorei.
Eles vão embora e vou para a cama, mas não consigo achar uma posição confortável para deitar minha cabeça que dói, lateja e o nariz que sangra.
Tomo o remédio receitado pelo médico e consigo dormir por algumas horas. Essa agonia dura alguns dias. 
Finalmente consigo dormir das 2hs da manhã até as 6hs. Comemorei. É uma raridade eu conseguir dormir direto assim.
Estou me sentindo melhor e até fiz algumas pequenas artes: fui à Farmácia Alto Custo, ao cartório, à casa da minha irmã Rosi e ao supermercado. Mas me cansei pra caramba e hoje decidi não sair de casa e aquietar o facho. Meu joelho inchou e doeu bastante e já está na hora de marcar nova consulta com o ortopedista. As injeções que ele aplicou no meu joelho têm a duração de 10 a 12 meses, desde que eu não faça muito esforço mecânico (físico), e é aí que mora o problema.
Mas eu acredito que vou ficar bem, terei de parar algumas vezes no meio do caminho para lutar minhas batalhas e sairei sempre vencedora, mesmo que algumas vezes abalada.
Têm outras coisas/problemas me aperreando, me avexando, me agoniando, mas...
Sou mameluco
Sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco
Sou Leão do Norte.
E...
Estou com as roupas e as armas de Jorge. 
Salve Jorge!


                                        

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