quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Liberdade

                                 

Sonhei com mamãe.
Estávamos sentados à mesa onde havia cestas enormes com pães e maçãs.
Adoro pão da padaria; pão crocante, "cascudo", quentinho e com manteiga verdadeira, nada de margarina.
Eu comia um pão e perguntava à mamãe se poderia comer outro, e ela dizia: "Oxe, minha filha, se está na mesa é para comer mesmo".
Isso foi muito libertador.
Meus irmãos Naldão e Rogério estavam presentes e Naldão passava muita manteiga no pão e eu dizia a ele: "É pão com manteiga, Naldaão, e não manteiga com pão".
Eu me levantava e pegava uma maçã e perguntava novamente à mamãe se poderia pegar outra e mamãe ficava brava e dizia: "E eu já não lhe falei que é para comer? Oxe!".
Foi muito libertador.
Papai regulava a comida, ficava nos olhando enquanto comíamos e quando raramente estava de bom humor, fazia piadinhas maldosas. Noventa e nove por cento do tempo papai estava de mal humor e nos atormentava com seus sermões intermináveis. Papai fazia comentários como: "Se trabalhassem o quanto comem, estava bom... É magro/a de ruim, pois come muito".
Acho que isso explica o fato de sermos tão magrinhos quando jovens e hoje meus irmãos se apegarem à comida como quem se apega à tábua de salvação.
Meus irmãos parecem duas dragas, comem como se não houvesse amanhã e vivem tendo piripaco e indo ao hospital com picos de pressão de alta.
Acho que eles querem compensar o tempo perdido e descontar toda a frustração e toda a vigilância terrorista de nosso pai comendo que nem doidos.
Eu disse libertador porque foi tão boa a sensação de comer em paz, em liberdade e sem ninguém nos vigiando e falando em nossas orelhas.
A pura e simples liberdade de saborear um alimento, seja ele um manjar dos deuses ou simples pão com manteiga.
É isso.

                             

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