sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Tia Filomena, Sol da Meia Noite,

                                     

Tia Filomena era irmã de mamãe e morava no Paraná com o tio Francisco.
Falei brevemente sobre ambos aqui e falei sobre a fuga para poderem ficar juntos, pois em uma época de muito racismo, preconceito e ignorância, relacionamentos de pessoas de etnias diferentes não eram tolerados. Não uso o termo raça, porque como já disse aqui, só existe uma raça: Raça Humana.
Bom...
Tia Filomena era galega, clarinha, cabelos louros avermelhados, olhos azuis e tio Francisco era negro. Precisa dizer mais?
Tio Francisco vive no Paraná, na cidade de Jaguariaíva, e mora com os filhos depois que tia Filomena foi para o céu.
Sonhei com a tia hoje e no mundo dos sonhos não há tempo, espaço, certo ou errado; as coisas são, simplesmente são.
Havia uma casinha simples e pequena à beira do mar e no céu brilhava o sol da meia noite. Minha sobrinha Michelle pedalava um pedalinho (sic) e eu ia com ela dar uma volta pelas água gélidas e azuis do oceano. Eu ficava preocupada e não permitia que minha sobrinha fosse para muito longe, tinha medo de entrar em oceano aberto e nos perder. 
Amarrávamos o pedalinho à doca no deck da casa e tia Filomena ficava a nos observar, eu dizia: "Olha só para aquelas explosões solares!".
O sol e a lua eram uma coisa só, uma luz quente e amarela em um céu azul que se encontrava com o mar; lindo e assustador.
As águas do mar oceano e os ventos eram gelados e eu estava preocupada com algo e me sentia muito insegura.
Observava a pequena casa à beira do oceano imenso, azul e gélido e me preocupava com a segurança de tia Filomena; será que a casa estaria bem presa às docas, ao deck?  Será que a pequena casa era forte o bastante para suportar a fúria dos elementos da Natureza? Por que a tia fora morar em lugar tão distante desses? Tão perto do mar, tão perto do sol com suas poderosas explosões? Por que eu tinha tanto medo de me perder no mar? Eu que amo o mar tão intensamente?
Eu olhava à volta e via policiais passando alegremente pela rua atrás da casa; eles riam e cantavam. Todos estavam tranquilos, menos eu.
Como já falei aqui, eu vi o sol da meia noite quando estava em coma, vi o mar de águas geladas, estive em países gelados onde brilha o sol da meia noite e vi homens branquelos e galegos iguais a tia Filomena. Será que a tia foi para as terras do sol da meia noite?
Será que a tia virou estrela e por isso não se preocupa com o sol tão próximo?
Quando era criança ouvia dizer que quando as pessoas morrem vão para o céu e viram estrelas. Será que tia Filomena virou estrela? Em que constelação ela estará? Órion, o grande caçador? As três Marias? Andrômeda? Cassiopeia?
Não sei.
Sei que a tia está em um bom lugar. Um lugar onde já estive, já senti muito frio e muito medo. 
Já se passaram três anos, mas às vezes os temores e terrores do coma voltam e me assustam.
Que Deus cuide bem de tia Filomena.
Que Deus cuide bem de minha família e das pessoas queridas.
Que Deus cuide bem de mim.
Amém.

                              


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