sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pilha

                                     

Minha avó Mãevelha adorava seu inseparável rádio de pilha e quando chegava a hora de trocar as pilhas, as quais chamava de elemento, pedia para algum dos "primos" que moravam em nossa casa fazer o serviço.
Mãevelha não confiava em nossa capacidade e habilidade manual para trocar umas simples pilhas, ela achava que o rádio não funcionaria.
Dizíamos que bastava colocar as pilhas nos pólos certos, negativo e positivo, e pronto, o rádio funcionaria e ela poderia ouvir os programas do Zé Betio, Eli Correa, Barros de Alencar e outros.
Mas não adiantava, Mãevelha não confiava em nós e ficava o dia inteirinho sem ligar seu amado rádio esperando até a hora em que os "primos" voltassem do trabalho. Era muita teimosia e "inguinórança".
Mas nos vingávamos dela roubando suas bolachas para serem devoradas com café ou chá quentinhos. Quem manda duvidar de nóis?
Mamãe ainda tentava convencer Mãevelha: "Mamãe, deixe de teimosia, esses meninos vivem na escola e foram nascidos ou criados em São Paulo e sabem de muitas coisas". 
Nosso pais e nossa avó achavam que o fato se sermos nascidos ou vindos bem cedo para São Paulo nos fazia mais espertos. Sei não, há controvérsia.
Os ditos "primos" chegavam e Mãevelha pedia: "Meu filho, bote os elementos no meu ráido, tu bota?"
Papai, mamãe e Mãevelha falavam um português diferente do que aprendíamos na escola e só quando comecei a estudar é que percebi a diferença e fiquei em dúvida sobre quem falava certo ou errado. Eles falavam "táuba, ráido, Káita, sangre, vinargue...".
Já falei sobre isso aqui e parte disso se deve à variação linguística e a outra ao fato de sermos pobres e falarmos como pobres mesmo.
Bom...
Os elementos/pilhas eram trocados e o bendito rádio era ligado e Mãevelha ficava feliz até o nova troca dos elementos.
É isso.

                               

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