Fui à locadora com minha irmã Rosi. Alugamos vários filmes e enquanto o funcionário organizava tudo, sou observada por dois homens que estão do outro lado da rua. A locadora fica em uma esquina.
Dali a pouco um deles entra na locadora e faz perguntas sobre os filmes, lançamentos futuros, preço da locação etc... Mas era tudo desculpa, o nobre e gentil cavalheiro queria me ver mais de perto e tirar a dúvida que assola dez entre quinze ignorantes: "Será homem ou mulher?"
Oh céus!
O cara entrou, perguntou, disfarçou, mas quando me olhou de frente, me mediu de baixo para cima e vice versa. Desagradável, deselegante, humilhante, machista, mesquinho, para dizer o mínimo.
Todo dia é assim. Todo dia, em todo lugar que eu vá é assim. Sou observada, olhada, averiguada...
Isso incomoda, isso é chato, isso é desagradável.
A Acromegalia é uma doença rara e pouco conhecida mas por outro lado, têm alguns acromegálicos famosos e isso ajudaria a divulgar conhecimento sobre a doença e assim evitar o preconceito.
Será?
Mas doenças raras ou não, as pessoas são tao insensíveis e cegas de consciência que não pensam duas vezes antes de olhar e julgar o outro que não seja "normal".
Basta ser um pouco diferente, ter uma aparência diferente e pronto, é prato cheio para os curiosos, ignorantes e preconceituosos.
Tem hora que cansa, que enche mesmo.
Na verdade, toda hora cansa e enche!
Não sou animal raro, não sou uma criatura ou uma espécie rara, sou humana, demasiado humana.
Rara é a minha doença e raras são as pessoas que respeitam aqueles que não são "normais".
Estou cansada dessa raridade.
É isso.
Comprei um novo roupão; é cor de rosa, comprido, fofinho, quentinho e muito macio.
Meus dois roupões azuis estão se desintegrando, literalmente, e os deixei para os gatos, que adoram.
Tenho apego às coisas, mas não um apego tacanho, egoísta ou mesquinho, é apenas um apego de bem querer. Faz bem querer bem.
Sou egoísta quando o assunto são meus livros, aí não tem jeito mesmo.
Já tive um par de tênis coloridos que foram jogados fora sem meu conhecimento. Minha irmã Rosi teve a ideia e a executou junto com uma prima e uma tia. Fiquei triste, gostava tanto do velho tênis colorido.
Junto com o novo roupão veio um par de pantufas fofinhas, bonitinhas e destinadas a pezinhos normais. Não tenho pezinhos, tenho pezões acromegálicos.
Já tenho destinatário para as pantufas fofinhas.
Tive um longo e cansativo dia, amanhã será melhor.
É isso.
Detesto domingos e adoro ficar só; juntei os dois e tive uma tranquila tarde de domingo.
Fez uma tarde bonita; ensolarada e fria. Arrumei as plantas, plantei milho para os gatos, coloquei roupas na máquina, sentei-me na cadeira com Rosinha no colo. Observei o comportamento dos gatos: Aurora perseguindo Boreal, Cássio querendo pegar os pássaros que pousam no paredão da empresa vizinha, Ébano Nêgo lindo querendo pegar Léo Caramelo, os dois não se entendem de jeito nenhum.
Foi uma tarde pacífica e silenciosa, os vizinhos barulhentos foram visitar alguém, graças a Deus.
Foi uma tarde sem música ruim, sem gritaria, sem exageros vocais, sem barulho.
Apenas a tarde, o sol, o frio, a solidão e o silêncio. Paz.
Até os malditos moleques que tanto atazanam a vida da gente resolveram tirar o dia de folga. Louvado seja Deus Nosso Senhor Jesus Cristo!
Gosto de ficar só e em silêncio, detesto barulho.
Mas amanhã tudo recomeça: caminhões, música ruim dos vizinhos, molecada na rua. Afe!
Retorno ao médico amanhã para tomar injeções, meu joelho direito, meu pé esquerdo e a coluna doem que só. As dores de cabeça também voltaram e me incomodam há duas semanas.
É assim, sempre assim. Fico boa um tempo, fico ruim outro tempo. É o ciclo da vida, das visitas aos médicos, hospitais, laboratórios...
E por falar em ciclo, plantei milho para os gatos para evitar que comam o matinho sujo e poluído que cresce nas calçadas. Os veterinários e o povo que gosta de gatos dizem que é mais seguro e saudável o bichano comer a plantinha do milho, que é mais limpa e fácil de plantar.
Joguei alguns caroços de milho e em alguns dias teremos um pequeno milharal.
Aliás, é uma das mais doces e fortes lembranças que tenho, caminhar pelo milharal com meu amado avô Paipreto.
Eu gosto das coisas simples
É isso.

Dia frio e cinzento hoje, bem ao modo paulistano. Dias assim deixam São Paulo mais São Paulo ainda. Adoro.
Venho lá do Sertão quente, seco, esquecido por Deus e pelos homens, principalmente, mas tenho uma queda pelo frio, pelos ventos frios, pelo cinza. Acho que sou assim meio cinza, não sou colorida, não sou de chamar a atenção.
Isso explica o gosto pelo frio, pelo cinza, pela chuva.
Sonhei hoje caminhando por uma cidade praiana muito bonita. Era uma cidade deserta, fantasma; não tinha moradores, mas tinha muita gente olhando o mar. As casas estavam abandonadas, havia algumas já bem destruídas, outras ainda intactas. Roupas no varal sacudiam fortemente ao sabor dos ventos. Ventava muito.
Mas eu percebia em minhas caminhadas por essa cidade que em uma determinada casa os ventos eram mornos e mais delicados e não entendia porque as roupas foram estendidas no varal do lado de fora, onde ventava bem mais forte e fazia muito frio.
As pessoas por ali nada falavam, apenas observavam o mar. Era como se um dia tivessem morado ali e foram apenas para visitar ou se despedir.
Era uma baía azul, com casa brancas de janelas azuis.
Os ventos me fizeram lembrar de Ilha Comprida (SP) e das praias de Santa Catarina.
A partir do litoral sul de São Paulo as águas são frias e o vento é mais forte. Estive em Santa Catarina durante o verão e lá os ventos são fortes e por isso atraem os surfistas. Durante a noite esfria bem e mesmo em dias ensolarados as temperaturas são amenas, bem opostas às esturricantes temperaturas do Norte e Nordeste.
Quero conhecer as praias do Rio Grande do Sul e quanto mais desertas e frias, melhor.
As pessoas vão à praia, principalmente no eixo Rio-São Paulo, para exibir seus belos corpos, seus biquínis e acessórios de marca; raros vão apenas para ver e apreciar o mar.
Eu aprecio e adoro o mar.
Vontade de pegar uma estrada para ir de encontro ao mar.
Quero conhecer a Praia da Joaquina, em Santa Catarina. Reza a lenda que Joaquina era uma rendeira que adorava o mar. Subia as dunas para fazer suas rendas enquanto olhava o mar e um belo dia uma onda veio e a levou.
Bonita lenda.
Sei lá, dias frios e cinzentos me deixam mais cinza ainda.
Preciso ver o mar azul, verde, cinza...

Adoro frutas, exceto abacate.
Gosto de figos verdes em calda, figos frescos nem tanto.
Gosto de pêssegos, damascos, nectarinas e todas as variações frutíferas.
Encontrei meu irmão Fubá, que não é muito afeito à frutas, embora goste de bananas e abacaxis, e ofereci-lhe pêssegos secos, que na verdade eram damascos secos da Turquia. Chique isso.
Minha saudável oferta foi declinada e ainda ouvi: "Eca. Como isso não!".
Eu sei. Mas se fosse pão com alguma coisa ou Coca Cola, aceitaria.
Não sou muito fã de refrigerantes tipo cola e não sei qual diferença entre Pepsi e Coca Cola, embora os fãs fanáticos dizem que tem diferença sim!
Bom, cada um cada um e eu fico com meus pêssegos, damascos, figos, nectarinas...
É isso.


Fiquei sem Internet esses dias e o motivo foi fartura. "Fartou" dinheiro e sobraram contas para pagar.
Não sei de onde surge tanta conta, parece que brota do chão! Contas de luz, água, telefones, seguro, plano de saúde, cartão de crédito...
A gente se empolga e depois se lasca pra pagar, mas no fim, tudo faz parte da vida e é divertido e até um bálsamo nos permitir alguns mimos de vez em quando e de acordo com o saldo do cartão de crédito.
Se bem que as faturas do meu cartão trazem sempre as mesmas relações de despesas: gastos em farmácia e em pet shops.
Bem divertido tudo isso.
Papai era uma pessoa peculiar. Tinha seu Português próprio com seu modo próprio de escrever e de falar. Tinha suas muitas manias, seus "pantinhos" (dengos e manhas). Papai era único, uma figura.
Havia dias em que nos dava seus intermináveis sermões, cismava com nosso modo de falar, vestir, criticava nossos gostos e achava defeito em tudo o que fizéssemos.
Mas havia dias, raríssimos, em que nos elogiava e nos fazia sentir especiais.
A boa fase durava pouco e a verdadeira intenção por trás dos elogios era para pura e simplesmente provocar os outros parentes e familiares. O motivo era tolo e simples: implicar com os sobrinhos e filhos dos parentes e familiares, principalmente com seus nomes. Explico.
Nossa família tem o hábito de escolher uma letra para nomear os filhos e todos têm que ter os nomes iniciados por aquela bendita letra. Nós somos todos "R": Rejane, Rogério, Reginaldo, Rosi, Ronaldo e Renata.
Temos uma prima, a Ivete, que ri por todo e qualquer motivo e tem hora que irrita, meu. Sabe aquela pessoa que olha pra você e começa a rir do nada? Já começa a conversar rindo? É chato e irritante, na boa.
Essa prima escolheu a letra "J" para nomear os três filhos e os nomes são peculiares, para simplificar a história.
Ninguém sabe de onde, como, nem porque ela tirou esses nomes estranhos, ou diferentes, para sermos educados: Jacilberg, Jadilberg e Josemberg.
E papai, claro, criticava nossa prima risonha por ter colocado nomes tão estrambóticos nos filhos. Quando não era a gente, papai tinha que encontrar alguém para criticar, pegar no pé, encher a paciência e a vítima favorita, depois de nós, era essa nossa prima. Ele começava: "Vê só se pode uma coisa dessa! Onde já se viu a pessoa botar nos filhos uns nomes doidos desses! Os bichinhos já são
feiinhos, meu Pai do Céu, e ainda mais com uns nomes desses! Meus filhos sim, são bonitos!".
Mamãe admirava-se com os elogios e críticas de papai: "Mas muito me admira tu, Dedé.Tu vive implicando com teus filhos e agora eles são bonitos? Tu cismasse com os meninos de Ivete foi? Por quê?!"
Papai se arretava: "E eu não estou mentindo não senhora, meus filhos são os mais bonitos sim! E se tu quiser saber, nessa família todinha o único que tirou (tem) filho bonito fui eu, porque o resto... Deus me perdoe!".
Era engraçado o diálogo entre papai e mamãe: "Deus te perdoe mesmo, homi!".
"E não é verdade não, mulé? Espia só os nomes dos meninos de Ivete: 'já te pego, vou te pegar, já te peguei".
Papai criava versões dos nomes dos sobrinhos que nem imaginavam que aquele absurdo acontecia e continuava a botar defeitos nos filhos dos outros parentes. Todos tinham defeitos, mas só os filhos dele eram os mais bonitos e tinham os nomes mais bonitos também.
Só papai mesmo.
De outra feita, mamãe coloca Fubá e Mauricinho juntos, filho de nossa amiga Cleusa, e diz para nossa avó Mãevelha: "Olhe mamãe, não são parecidos?".
E Mãevelha responde: "É, mas meu neto é mais bonito".
É muita buniteza, meu Deus do Céu.
É isso.
Não queria falar sobre o fim da vida, mas sinto-me meio triste e ando tendo sonhos com pessoas que já se foram e com outras que estão prestes a ir. Como sei disso? Não sei, apenas sinto.
Desculpem o tema.
É o destino de todos, dizem uns. Para morrer basta estar vivo, dizem outros. Para todo mundo vai chegar sua hora. É preciso ir para dar lugar aos que virão...
E as frases feitas continuam.
Às vezes acho que é melhor usar uma dessas frases a ficar em silêncio. Outras vezes, na maioria das vezes, é melhor nada dizer.
Honestamente, não sei o que é "certo ou errado" nessas situações, se é que há certo ou errado nessas situações.
Sempre tive uma grande proximidade com a Morte e algumas vezes já me sentei em um banco gélido em uma praça gélida cercada por árvores gélidas. Tudo era tranquilo por ali, apenas frio demais.
Era comum, acredito que ainda seja, no Nordeste a morte de crianças menores de dois anos de idade. A fome, a seca e a miséria se encarregavam disso. Segundo a tradição local, todas a crianças menores de sete anos eram consideradas anjos inocentes e por isso, seus caixões deveriam ser carregados também por crianças menores de sete anos.
Vivi em Pernambuco até meus seis anos, completados no caminho para São Paulo, e era sempre chamada para fazer parte do grupo que carregaria o pequeno caixão até o cemitério. Era tão comum e eu era tão requisitada que achava aquilo normal. Crianças magras, braços e pernas finas, cabeça e barriga grandes, olhos fundos... Era questão de tempo.
Caminhávamos pelas ruas de terra vermelha e sentia o calor do sol em minha pele, o cheiro forte de terra trazido pelos ventos que só brincavam de anunciar a chuva e nos deixando a todos tão esperançosos.
Carregávamos o pequeno caixão que deveria ser sempre branco e o pequeno defunto parecia dormir tão tranquilamente. Que Deus receba essa pequena criatura que só sofreu em tão curta vida.
Quando acabava o cerimonial e voltávamos para casa, minha avó Mãevelha nos mandava tirar as roupas e os sapatos e correr para o banho. Ela dizia que "prestava não" entrar em casa após voltar do campo santo, como ela chamava o cemitério.
Tenho sonhado muito com mamãe, com meu irmão Naldão e com um conhecido já idoso, mas que recusa-se a aceitar que é idoso. Acha que ainda é o belo rapaz de forte sotaque europeu com seus cabelos negros e belos olhos azuis. Mas o tempo passou e ele não viu isso, ou não quis.
Em quase todos os sonhos com meu irmão obeso eu peço a mamãe que fale com ele e que o faça ver que ainda é jovem e não precisa se devorar junto com a comida. Mas mamãe disse que meu irmão "não tem jeito não". Deus.
Sonhei esses dias com seu enorme corpo deitado sobre uma mesa de pedra e ao chegar, sabia de alguma forma que ele estava morto. Eu ficava tranquila e achava que agora ele encontraria a paz, o conforto, a força e a coragem que nunca teve em vida. Mamãe era o leme, o porto seguro dele e de todos nós. Papai também.
Mas papai e mamãe partiram e nos deixaram já adultos e com nossas famílias formadas, mas quando pai e mãe vão embora não tem ninguém adulto ou jovem demais, somos todos crianças e achamos que nossos pais são para sempre, deveriam ser para sempre.
Deus, meu Deus dai-nos força, dai-nos paz. Amém.
Desculpem esse texto triste.
Li comentário sobre a postagem "Entrevar" e o/a leitor/a disse que tem dores, que foi ao médico, mas toma remédios meio por conta própria.
Isso, caro/a leitor/a está errado e pode piorar ainda mais sua condição, além de ser muito perigoso para a saúde.
Aconselho a retornar ao médico e a só tomar medicamentos receitados por ele; a automedicação pode ser muito perigosa.
Fui ao médico quinta-feira e devo retornar na próxima quinta. Tomei a injeção para controle do tumor da hipófise, o Sandostatin-LAR (acetato de octreotide) e estou tomando os remédios anti-inflamatórios e os para controle das dores, todos devidamente receitados pelo médico.
Como tomo muito remédios, tenho receio de tomar outros medicamentos por conta própria e ter problemas advindos disso.
Remédios aparentemente inocentes podem causar alergias em algumas pessoas e uma vez levei ao hospital uma vizinha que ficou toda inchada e vermelha por ter tomado um inocente remédio que todo mundo conhece, é baratinho, é vendido livremente nas farmácias e tem sempre alguém que diz: "Esse remédio é muito bom, tomei e fez efeito rapidinho".
Um professor conversava comigo e disse que sua mãe tem dores articulares, alguém disse-lhe que um tal medicamento é bom, e lá foi ele comprar para a mãe. Segundo o professor, foi um santo remédio e sua mãe sente-me bem melhor.
Bom, cada um cada um, mas eu não tomo nada que não seja receitado por médicos.
Como diz o ditado: "De médico e louco tomo mundo tem um pouco".
Mas vai que...
É isso.
Mais um dentista morto após ser queimado por marginais só porque ele não tinha dinheiro.
Mais um "de menor" que dirige o carro da mamãe, atropela e mata um inocente que voltava ou ia para o trabalho.
Já virou rotina atropelar as pessoas, arrancar-lhes membros, andar alguns metros com elas presas ao carro, jogar fora seus membros arrancados, abandonar os corpos em qualquer lugar.
O absurdo maior foi a coragem monstruosa de despir a vítima já falecida e levar-lhe o dinheiro.
Em que espécie de monstros estamos nos transformando?
Um conhecido comentou: "Lá em casa ninguém nunca tem dinheiro e estou com medo. Se forem nos assaltar, vão colocar fogo na gente". Deus nos livre a todos.
Vejo na TV as reportagens e alguns criticam e dizem que a polícia não faz nada. Mas aí fica um paradoxo: Se a polícia age, a polícia é bruta, os policiais são afastados, julgados. Se a polícia não age, é porque a polícia não faz nada.
Cada vez mais o crime cresce e a impunidade aumenta e é exatamente essa matemática perversa que nos mantêm presos em nossa própria casa e os criminosos livres, leves e soltos para cometer suas atrocidades.
Matar virou coisa comum, rotineira. Mata-se por um celular, por uns trocados, por nada.
Filho playboy de milionário atropela e mata com seu carrão super potente um pobre que andava de bicicleta.
Bandido pega o carro da mãe, um modelo Audi, assalta e queima dentista.
Bandido "de menor" pega o carro da mãe, atropela e mata garçom que voltava do trabalho.
Quando criminosos serão tratados como criminosos e pagarão por crimes, sendo esses monstros maiores ou menores de idade?
Até quando os defensores bonzinhos continuarão a defender essas criaturas maléficas?
Aí dizem: "Mas tem que investir mais em educação. A culpa é da escola, é do governo, é do sistema, é do Papai Noel".
A escola onde trabalho ficou dois dias sem telefone e serviço de Internet; como?
Os adoráveis alunos destruíram a caixa com cabos, fios e conexões. Outros arrebentam a tomada, puxam os fios para fora e ao sair a faísca, comemoram juntos com os outros tolos que observam.
A escola liga para os pais e lá vão alguns. Uma mãe diz que não pode fazer mais nada e que está mais preocupada em cuidar do corpo e de tirar sua carta de motorista.
Que pai é mãe são esses que são incapazes de cuidar de suas próprias crias?!
Voltávamos pela Marginal Tietê e dois carros passam entre os outros, mudam de faixa sem sinalizar ou reduzir a velocidade; isso vai dar m..., dizemos.
Um rapaz jovem e bonito perseguia o outro motorista que dirigia um carro popular. Não pensaram nas consequências que essa briguinha boba poderia trazer.
Lembro que Ziraldo falou durante a Bienal do Livro, que os jovens de hoje são burros. Muitos criticaram o que ele disse e disseram que Ziraldo é velho e ultrapassado, pois os jovens de hoje já nascem sabendo usar computadores, tablets e afins.
Mas inteligência não é só saber mexer em um computador; o que fazem com a informação que surge a cada segundo? Usam para alguma coisa? Aprendem alguma coisa com ela?
Essa é diferença.
É isso.
Volto de Santana de Parnaíba e encontro meus gatos ouriçados, olhando para cima, subindo nos móveis e muito interessados em algo; o que será?
Olho na mesma direção que eles e vejo uma borboletinha preta com uma bolinha branca em cada asa, linda.
A borboletinha voava com dificuldade, era muito novinha e inexperiente e não conseguia encontrar a saída. Abri todas as portas e janelas mas mesmo assim ela voava sempre em volta do mesmo lugar.
Volto da escola e a encontro atrás da torradeira e imaginei que ela já demonstrava os primeiros sinais de fraqueza, desidratação e fome, tadinha. Molhei as mãos e deixei as gotas d'água caírem naturalmente, formando poças que para o inseto pareceriam um grande lago. Ela esticou sua língua comprida e sorveu o precioso líquido.
Borboletinha hidratada agora teria que encontrar alimento para ela. Mas o que as borboletas comem? Néctar igual às abelhas?
Tenho lindas flores vermelhas que atraem beija-flores e insetos, mas com essa gataiada não têm inseto ou ave que resistam.
Fiz como sempre faço com as abelhas que pousam perto de mim, dei-lhe açúcar. Coloquei um pouco e logo ela se animou. Aproveitei para colocá-la sobre as plantas suspensas e assim ela tomaria sol e ar fresco, é bom para a saúde e ajuda na recuperação de enfermos.
Dever cumprido, mais uma vida salva e gatos doidos para pegar a pobrezinha, deixei não.
Dizem que sou louca, dizem que animais não falam, não sentem; dizem que planta é tudo mato, dizem que é besteira olhar o por do sol e achá-lo lindo, dizem, dizem, dizem.
Falam tanto porque perderam a capacidade de olhar e enxergar e em contrapartida, desenvolveram a capacidade de falar demais sem nada sentir.
Louca ou normal, vivo minha vida, procuro não incomodar ninguém e respeitar a todos.
Estou bem na minha loucura, é só o corpinho que anda falhando.
É isso.
Não estou bem. Não tenho estado bem ultimamente.
Fico bem um dia ou dois e fico ruim o restante da semana. Está difícil.
Trabalhei meio no empurrão, não me sentia bem e olhava para o relógio o tempo todo. Nem tomei o café da tarde.
Ajudei com alguns preparativos para a festa junina da escola e isso ajudou a passar o tempo mais rápido.
Uma professora da manhã me viu chegando e perguntou se eu estava bem, sorri e disse que sim. Passo em frente às salas de aula e os alunos acenam para mim, tão bonitinhos. Já me perguntaram inúmeras vezes quando é que eu vou dar aula para eles e me corta o coração ver aqueles olhos pidões e as carinhas inocentes. Mas só as carinhas mesmo, porque já são uns danadinhos tagarelas a extremo.
Eles fazem a pergunta e acrescentam: "Eu sou da quinta, da sexta, da sétima A, B, C..."
Temos problemas, a escola tem tido muitos problemas com o comportamento de alguns alunos. Mandam os professores calar a boca e coisas bem piores. Empurram professores, ameaçam professores...Complicado.
Mas até agora não tive problemas com alunos e espero não ter. Eles até oferecem ajuda quando subo ou desço as escadas, perguntam se estou bem e mostram um lado bem frágil e humano que fica escondido sob a marra e a falta de educação.
Finalmente bate o sinal, acabou por hoje, graças a Deus.
Uma professora me ajuda a caminhar até o carro e saio da escola me sentindo tão pesada, tão cansada, tão mal.
Tinha intenção de passar no supermercado e comprar alguns legumes, estou louca para fazer uma torta quiche de batata com queijo, tomate e temperos. Adoro torta.
Pretendia também colocar roupa na máquina enquanto fazia a torta e enquanto a torta assava eu ia estendendo as roupas no varal.
Pretendia procurar as linhas e as agulhas de crochê de minha avó MãeVelha. Só sei fazer correntinha, mas fazer isso me ajuda a acalmar.
Tenho também a tesoura antiga da minha avó e as escovas de tirar pelo de roupa dos meus amados avôs, meu Paipreto e meu avô José.
Mas eu cheguei em casa e me deitei no sofá. Tirei o tênis e me joguei no sofá. Dor de cabeça forte e só do lado esquerdo do crânio, gosto de sangue na boca. Tomei meus remédios, mais remédios.
Agora deu uma melhorada, graças a Deus, e penso em voltar amanhã ao hospital e ser atendida por um médico que me olhe e me ouça e que não fique tão mais preocupado em ver suas mensagens no celular.
Falei hoje aos meus colegas que não sei se vou aguentar, não está fácil para mim.
Fico preocupada com meus gatos, minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Socorrei-me!
Ébano Nêgo Lindo e Aurora são simpáticos e sociáveis, mas os outros são ariscos e não gostam de estranhos, principalmente meu Léo Caramelo, que é tão carente e dependente de mim.
Meus animais têm histórico de abuso e eu faço o melhor para protegê-los, para cuidar bem deles e dar todo o amor que houver nesse mundo para que os faça sentir seguros, amados, queridos, mimados...
Já contei aqui nesse blog a história de cada um deles e não sou de comprar animais, eu ajudo aos que foram abandonados, maltratados, abusados...
Acho de um tremendo mau gosto pagar mais de mil reais por um filhotinho de raça, sendo que com esse mesmo dinheiro pode-se ajudar tantos animais carentes. E além do mais, os pais desses filhotes, chamados de matrizes, são sempre descartados ou maltratados após as crias. Cruel isso.
Volto amanhã ao hospital e voltarei boa para casa. Acho que preciso de uns dias para descansar, mas descansar de verdade. Ficar em casa mesmo! Fazendo só o necessário e sem ter que ficar rodando por aí.
Acho que é isso, preciso descansar.
Esse cansaço todo é só a ponta do iceberg.
Boa noite a todos.
Chove, muito frio, gataiada encolhida, Rosinha no meu colo e Alice ao lado sobre seu inseparável cobertor azul.
Fiz meu café forte e doce na medida, fiz torradas com meu pão de soja e aveia, bagel também.
Penso em preparar um macarrão, um spaghetti com molho de tomates frescos, bem madurinhos. Apenas cebola, alho, tomate, sal e azeite de oliva. Nada químico, artificial e que "ofenda o istambo da gente", como diria papai.
Papai não gostava de molho de tomate pronto que à nossa época era chamado de extrato de tomate. Hoje há uma infinidade de marcas, temperos e sabores.
Papai dizia que o extrato de tomate era muito azedo (ácido) e "atacava" o estômago dele, causava-lhe azia e má digestão.
Levantei-me um pouco tarde, hoje é domingo, detesto domingos. Deus me perdoe, diria mamãe.
Zapeava pela TV, como sempre faço. Nada que preste. Gosto da Regina Casé e acho que o programa dela, "Esquenta", é um excelente veículo de divulgação de outras culturas, culturas de massa.
O programa mostra a música, a dança, a cultura e a própria existência de outros grupos sociais que ficam escondidos nos morros cariocas, no interior do país e nas periferias das grandes cidades.
É um trabalho muito bacana que o programa e a Regina Casé fazem. Mas confesso que admiro o trabalho dela e o programa, mas não posso dizer o mesmo das músicas que lá são tocadas/cantadas. Na boa e com todo o respeito.
Não me apetecem as músicas horrendas com sílabas repetidas à exaustão por grupos de moleques do morro. Inferno ter que ouvir o tal do "leleque, leque, leque...". Jesus tenha piedade. Amém.
E os tais dos bondes então. Para mim, bonde era um meio de transporte inicialmente puxado por cavalos. Aí me colocam umas criaturas estranhas rebolando e dão-lhes o nome de "bonde das maravilhas". Que bonde? Que maravilha?!
Não, não dá. Respeito, mas não dá.
Continuei zapeando e paro num canal que nunca vira antes, o canal BIS. Para mim bis é um delicioso wafer coberto com chocolate.
Paro no tal canal ao ver Simon & Garfunkel cantando ao vivo "Like a bridge over troubled water". Lindo!
Depois cantam e tocam brilhantemente U2, Bruce Springsteen, Metallica, Ozzy Osbourne, Jeff Beck, um estupendo guitarrista, Sting, Mick Jagger, B.B.King e outros "velhinhos" da boa e velha música mundial. Rock, Metal, Folk Song, Pop...
Música boa tocada e cantada por gente talentosa de verdade. A música atual anda tão repetitiva e chata, não à toa grandes sucessos de décadas atrás são regravados com nova roupagem e são usados em abertura de novelas.
Foi muito bom ver e ouvir os bons, ainda mais em um frio e chuvoso dia de domingo.
Estou melhor hoje, tomei os remédios e ando com mais liberdade e segurança. Sempre digo que sou Mameluco, sou de Casa Forte, sou de Pernambuco, sou Leão do Norte, mas ultimamente estou mais para Calango do Sertão.
Vou alimentar meus tigres disfarçados de gatos e preparar meu macarrão com molho de tomate natural.
Esse texto ficou meio maluco, não ficou?
É isso.
 |
Calango |
Meus gatos não são estilistas mas estão sempre inventando moda. Explico.
Todos os dias limpo o quintal deles, troco areia sanitária, lavo os potes de ração e água e coloco tudo novo e fresquinho.
Algumas vezes faço isso mais de uma vez por dia, principalmente nos dias quentes de verão.
Mas a moda agora é beber água diretamente da torneira. Haja paciência.
Aurora, minha linda, inteligentíssima e terrível Aurora percebe quando vou ao banheiro ou à área de serviço. Sobe na pia do banheiro ou no tanque de lavar roupas, arregala os enormes olhos verdes, mia, olha para mim e para a torneira e "diz": "Estou com sede".
Incrível como ela percebe quando vou ao banheiro, mesmo ela estando na garagem e eu lá nos fundos da casa. Aurora é muito inteligente.
Ébano Nêgo Lindo é mais elegante e paciente, além de lindo, claro. Ele espera, se aproxima, sobe no tanque ou na pia do banheiro, me olha com seus olhos de caramelho e eu abro a torneira para ele. O problema é que às vezes estou ocupada e os deixo se deliciando com a água fresca e corrente e quando me lembro da torneira aberta...
Dizem que o único felino que gosta de água é o tigre, mas meus gatos têm fixação pelo precioso líquido. Não gostam de tomar banho, claro, mas adoram olhar a água correr da torneira e ficam olhando a correnteza que se forma quando a máquina solta a água no ralo.
Eu gostava de olhar a correnteza que se formava pelas chuvas que caiam no chão vermelho do meu Sertão. Eu segurando as mãos de mamãe e parando para observar a correnteza. Achava aquilo tão bonito.
Mamãe dizia: "Vamos filha, seu Paipreto está esperando".
Adorava caminhar segurando as mãos de mamãe por entre os pés de feijão.
As mãos de mamãe, as águas, mamãe... Significam tanto para mim.
É isso.
Líquor, líquido cefalorraquidiano ou fluido cérebro-espinhal, tem a aparência e o gosto de lágrima e sua função é proteger o sistema nervoso central.
Fístula liquórica é uma complicação que ocorre em cirurgias de base de crânio, já falei sobre isso aqui, e pode acarretar em problemas graves, como infecções e até meningite.
Bom.
Eu comentava com minha irmã que passei a maior parte do ano passado longe dos hospitais, mas ia sempre aos consultórios médicos e fazia os exames. Mas esse ano parece que as "férias hospitalares" estão acabando e a necessidade de encarar os fatos faz-se bem presente.
Tive uma gripe bem forte na segunda metade do mês passado e iniciei esse mês de junho com mais uma gripe que começa bem forte também.
Uma forte pressão na nuca e fortes dores de cabeça somadas à hipertensão fazem com que haja uma perda de líquor. Comecei a perder líquor há duas semanas.
Estou anotando todas as mudanças em meu quadro clínico para levar ao neurocirurgião.
Tenho ido muito ao hospital para tomar remédios para a dor e tenho também ido muito ao consultório do ortopedista para o mesmo fim.
É sempre assim, já existe um padrão bem definido: passo uma temporada no hospital, recebo alta, fico bem, volto a trabalhar toda animada e acho que dali pra frente tudo vai ser diferente, vou aprender a ser gente. Mas...
Eis que começa tudo de novo: uma dorzinha aqui, outra dorzinha ali, consultas, exames, remédios e o quadro clínico piorando.
Parece que a saúde e a doença brigam para que cada uma possa manter seu espaço e garantir sua vez de agir e ficar e isso atrapalha a vida.
Eu tenho tanta gana de viver, tenho vontade de fazer tanta coisa. Coisas até simples e bobas para quem tem saúde e nunca parou para pensar que um dia desses qualquer lá nos surge um tumor no cérebro que arrebenta com nossa vida.
Até mesmo coisas singelas e que muita gente detesta como é o caso dos afazeres domésticos. Faço o que posso na medida do possível e foram-se os dias em que eu podia arrastar móveis pra lá e pra cá e fazer tudo o que uma pessoa saudável faz.
É como uma ampulheta ou uma bateria, começam cheias e aos poucos vão se esvaindo, acabando a energia. Para recarregar, é preciso parar e me deitar, se eu tentar ignorar e forçar a barra, acabo me dando mal.
Tenho estado bem cansada ultimamente; tudo me cansa mais que o normal.
Fiquei feliz ao caminhar pelas ruas de ladeiras de Santana de Parnaíba, fui e voltei numa boa, mas quando chegamos à casa de minha irmã Rosi para tomarmos café, tive que me segurar. Estava tão cansada e não via a hora de ir para casa.
Dei graças a Deus ao chegar ao meu cafofo e me deitei com a gataiada que sente e sabe quando não estou bem. Dormi profundamente e foi como se um enorme peso tivesse sido tirado do meu corpo.
Adoro fazer pequenas viagens e adoro pegar estradas, mas agora está um pouco mais difícil de fazer isso só ou sendo a única motorista. Eu fico muito dolorida e muito cansada.
Às vezes penso em chamar as pessoas para fazer essas viagens comigo, mas nem todo mundo pode; alguns têm compromissos daqui e de lá e não podem adiá-los.
Às vezes sinto e acho, posso estar errada, que as pessoas me evitam ou recusam minhas propostas turísticas porque têm vergonha de sair comigo; têm vergonha de mim porque não sou bonita, ando com dificuldade e com a ajuda da bengala e ainda por cima tenho essa carão acromegálico. Ferrou!
Bom, o que eu sei com cem por cento de certeza é que todos viraremos comida de minhoca ou cinzas, no caso dos cremados.
Bonitos e feios, saudáveis e doentes, corinthianos e palmeirenses, todos terão o mesmo destino.
Já marquei algumas consultas e penso em pedir afastamento para fazer os exames e não ficar faltando ao trabalho e pegar muito atestado. O pior é ouvir comentários bestas: "Foi viajar?"
Dá vontade de falar: "Fui sim. Fui com teu marido, @#$%!".
É isso.