quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Corpo Acromegálico

                                               


Estou conversando/escrevendo/trocando informações com pessoas de várias partes do mundo. Acho muito bacana o suporte, o apoio e o divulgar sobre doenças e outros problemas de saúde. 
Aqui no Brasil não vi muito apoio e nem informação sobre Acromegalia e acromegálicos. 
Tenho encontrado e conversado com pessoas muito bacanas e que passam pelas mesmas agruras pelas quais passo: cansaço, diabetes, pressão alta, inchaço e dor nas juntas e uma série de outros problemas advindos da Acromegalia.
Não pretendo aqui bancar a vítima, quero apenas dividir e somar conhecimento, compreensão e respeito.
Acromegálicos também têm sentimentos.
É isso aí. 


Parafusos e hastes na minha coluna







Inflamação no osso Tarso do pé esquerdo




Meu cérebro




Meu joelho com artrose









Última dose

Tomei hoje a terceira e última dose da injeção no joelho.
Fiz radiografia e o médico disse que houve progresso.
A artrose está lá, mas foi bem cercada pelo remédio; usando uma linguagem mais simples.
Devo retornar em noventa dias para mais exames e acompanhamento.
O que ajudou na boa recuperação foi o fato de eu estar de licença médica; se estivesse trabalhando a recuperação não teria sido tão boa e rápida.
O médico deu-me laudo para ser entregue ao médico perito e na escola. Devo mudar minha rotina no trabalho, não dá para ficar no sobe e desce de escadas e nem de pé durante longas horas. Além da artrose no joelho ainda tenho o pé esquerdo com inflamação no tarso e os parafusos na coluna. 
Não é fácil.
Veremos.
Não queria deixar de lecionar; adoro os pequenos das 5ª séries.
Tentarei falar com a diretora e convencê-la a reabrir a biblioteca da escola. Lá poderei trabalhar sem subir nem descer escadas e estarei a fazer o que mais gosto: leitura, livros, alunos.
O problema é ir contra gente negativa que bota defeito em tudo.  E sei que terá gente que não gostará muito de perder a moleza e a facilidade que encontrou no novo meio de trabalho. Gente que tem uma dorzinha ali ou acolá mas que nunca encarou uma cirurgia e conseguiu muito facilmente a mudança no trabalho. Deve ter dado para o médico. Não é possível.
Bom...
Cheguei em casa bem cansada e o calor só piora. Deitei um pouco e acabei dormindo. Acordei com o barulho da chuva. 
Não gosto quando está muito quente, até os 25 ou 26 º está bom de mais.


      
Joelho após aplicação da injeção










Moda Praia & Verão 2012

O verão pede cores fortes em tecidos leves. Cabelo em penteados despojados.
Moda praia. Um estilo retrô que nos remete aos delicados anos 20



Ano novo na praia. A moda pede o branco


Insetos e Inseticida

                                          


No calor os insetos saem de seus esconderijos e vêm nos atacar. O pior deles é o pernilongo, que além de picar, ainda faz aquele irritante barulho no ouvido da gente.
Papai chegava do trabalho e espalhava inseticida pela casa toda. Na época tínhamos um troço chamado bomba de fritz ou flitz. Já falei sobre isso aqui.
Eram raros e caros os inseticidas em práticas latas de spray e por isso comprávamos o inseticida em latas de meio litro e depois despejávamos na tal da bomba de fritz.
Lembro das marcas da época: Detefon e Baygon líquidos e o SBP spray. Chiquérrimo. Meu sonho era fazer igual a moça do comercial; apertar o botão da lata e espalhar o inseticida pela casa.
Um dia Mãevelha me manda ir ao mercadinho para comprar inseticida, mas ela não sabia falar a palavra inseticida e dizia remédio ou veneno para muriçoca. Ela disse: "Olhe, tu peça remédio pra matar muriçoca, visse?"
Eu chego ao mercadinho e fico com vergonha de usar as mesmas palavras que Mãevelha disse, então olho em volta e procuro pela já familiar lata de inseticida das marcas Baygon ou Detefon. A moça do mercado percebe que procuro por algo e pergunta o que eu quero: "Quero remédio para matar muriçoca"
"O quê?".
Repito e ela diz que não tem o que procuro e me aconselha a voltar para casa e perguntar direitinho para minha mãe o que foi que ela me mandou comprar.
"Minha mãe está no trabalho. Foi minha avó que me mandou vim aqui".
Eu não queria voltar para casa com as mãos vazias, sabia que a surra seria garantida e mais os adjetivos e os sermões. 
A moça do mercadinho me pede para repetir exatamente o que minha avó disse: "Remédio pra matar inseto, barata, purga e muriçoca".
"Você não é daqui, né?"
"Não".
"O que são purga e muriçoca?"
"Acho que é pulga, aquilo que todo cachorro tem. E muriçoca é aquele inseto que chupa o sangue da gente e faz barulho".
Ela me conduz ao corredor do inseticida e aponta para várias latas de Baygon  e Detefon. Vejo a embalagem esverdeada com a imagem de vários insetos e digo, aliviada: "É esse mesmo! Graças a Deus!"
"Você vai levar Baygon ou Detefon?"
"Qual deles serve para matar muriçocas?"
"Todos servem para matar vários insetos. Pernilongos também".
Mas pernilongo lembrava Pernalonga, o coelho esperto do desenho animado.


 



Praia, Biquíni & Melancia

                                         




Estávamos a pouco tempo em São Paulo e mamãe quer conhecer as praias paulistanas. Fazia muito calor e nada como um refrescante banho de mar.
Nosso primo Pedro, o "sabe como é o negócio" contrata os serviços automobilísticos de um conhecido seu. Num belo domingo, conforme o combinado, estamos todos prontos para a viagem ao litoral.
Mamãe confere tudo para não se esquecer de nada: água, pão, toalhas, frutas, roupas...
Papai preocupa-se com a melancia. "Olhe véia, não se esqueça-se da melancia, visse?"
Mamãe olha para mim e pergunta: "Mas o que má dos cachorro é isso, Rejane?".
"O quê, mãe?"
Eu estava com o biquíni e uma calcinha por baixo. Ideia de minha avó Mãevelha somada à minha timidez.
Minhas primas começam a rir e eu fico emburrada. Minha tia vai comigo até o quarto e me convence a ficar só com o biquíni. Ela me explica que as pessoas vão à praia para se molharem no mar então não precisa de tanta roupa e além do mais, eu era criança e ninguém olharia para mim. 
Chega a hora de partir e papai dá um sermãozinho básico: "Pra passear todo mundo levanta cedo, agora se fosse pra trabalhar..."
Entramos na Perua com nossas tralhas e a melancia de papai, mas nada de o sol aparecer. Mamãe comenta com as sobrinhas: "Mas vocês viram, meninas. A semana todinha de sol e hoje essa chuva e esse frio".
Papai, sempre "secador", diz: "Mas eu disse que ia chover. Eu disse que não ia sair sol".
"Cala-te boca, Dedé. O Homem secador, minha Nossa Senhora".
Chegamos à praia e a primeira coisa que papai faz é enterrar a melancia na areia para mantê-la fresca e geladinha.
Minhas primas correm para o mar e eu fico observando aquela imensidão de água. Mamãe me diz para tirar a roupa e ficar só de biquíni. Mas eu tenho vergonha e uso o frio e a chuva como desculpas.
Meu primo Cacau, nada corajoso, ficava só com os pés na água na beira da praia e quando a onda se aproximava ele corria desesperado. 
Um com medo e o outro com vergonha.
Finalmente entro na água e fico tremendo de frio. Saio e me enrolo na toalha. Bato o queixo de frio e passa uma casal que faz piadinha: "Eita que essa daí tá com frio".
Eu olho feio e encaro, do alto dos meus sete anos: "O que foi? Nunca viu não?"
O casal me olha e saio correndo em direção a mamãe. Melhor garantir, né.
Chega a hora de voltarmos e quase nos esquecemos da melancia, mas papai não.
Chegamos em casa e a primeira coisa que papai faz é cortar a fruta, sua preciosa melancia.
O mar não estava para peixe nem para turistas farofeiros.


                                              

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cera

                                          




Antigamente tínhamos o hábito de encerar o piso da casa. Naquela época o piso era de madeira na maioria das casas e havia também vários tipos e cores de ceras. Hoje a madeira foi substituída por cerâmica.
Usávamos cera em pasta, mais barata. As mãos ficavam manchadas e cheirando à cera por um bom tempo e encerávamos a casa toda sexta-feira, o dia nacional da limpeza.
Abríamos a lata de cera, passávamos uma boa quantia numa flanela e esfregávamos no chão. Esperávamos secar e depois dávamos brilho com um pano macio. Era ótimo exercício físico para pernas, braços e glúteos.
Enceradeira era objeto de nosso desejo. Achávamos chiquérrimo passar a enceradeira no piso depois de encerá-lo. 
Tínhamos uma vizinha toda metida a falante. Ela forçava as sílabas e os "s" e "r" das palavras. Metida por demais. Boa pessoa, mas muito metida.
Meus irmãos eram os paus mandados da vizinhança; tudo que as vizinhas precisavam comprar no mercadinho do bairro pediam autorização a mamãe para mandar meus irmãos comprarem.
Essa vizinha falante chama mamãe e pede: "Dona Marlene, posso mandar seu menino ir ao mercado para mim?"
"Sim, minha filha. Diga o que você quer. Venha cá Rogério, venha".
Meu irmão Rogério se aproxima e escuta o pedido: "Traga uma lata de sardinha em óleo comestível e uma lata de cera Parquetina".
Mamãe pergunta: "O fulana. E tem sardinha em outro tipo de óleo, tem?".
Rogério repete o pedido para confirmar e evitar erros: "Uma lata de saidinha de óleo e uma lata de cera pra cretina".
Meu irmão é meio Cebolinha com o "r".
"Não, Rogério. Uma lata de sardinha em óleo comestível e uma lata de cera da marca Par-que-ti-na".
Ah bom.


                                               


                                       

Moradia do Senhor

Morávamos nessa casa pequenina com quintal grande. Éramos vizinhos da transportadora gaúcha. Nela trabalhavam vários conhecidos nossos que tinham vindo de Pernambuco para tentar a sorte em São Paulo.
Um desses conhecidos, de nome Abel, era chamado carinhosamente por seus colegas de trabalho de Satanás. Os motivos são óbvios. 
Abel era um moço alto, magro, pele morena avermelhada e volumosos cabelos estilo Black Power. Era realmente o cão chupando manga. Com todo o respeito.
Um belo dia mamãe está estendendo roupas no varal quando ouve alguém chamar; era um dos rapazes da transportadora. Ele pergunta: "Tia, o Satanás tá aí?"
"Quem, meu filho?"
"O Satanás, tia".
"Deus me livre e guarde! Aqui não mora ninguém assim não, meu filho. Aqui mora os poderes de Jesus".
O rapaz ri do mal entendido e explica: "Esquenta não, tia. Satanás é aquele moço que começou a trabalhar a pouco tempo com a gente".
"Ah, sim, meu filho. Ave Maria. Que susto você me deu. É o Abel".


                                          

Cigarro é fogo!

                                           


Papai e mamãe fumavam bastante e sempre nos mandavam aos bares e padarias para comprar mais cigarros.
Nós gostávamos quando eles nos pediam café e cigarro. É que sempre aprontávamos nossas artes. Mas depois papai e mamãe ficaram expertos com nossas artes e já não caíam mais nas nossas traquinagens.
Era assim.
Nós quebrávamos o palito de fósforo e colocávamos a cabeça do palito dentro do cigarro; sem ninguém perceber. Quando papai e mamãe acendiam o cigarro, subia aquele labareda bem alta. Nós nos divertíamos muito. Papai e mamãe nem tanto.
"Meninos danados! Isso é artimanha de Rejane, só pode ser".
Fizemos isso várias vezes. 
Ríamos muito e dizíamos: "É mãe, cigarro e fogo!".

Curioso

                                             


Na nossa linguagem pernambucana, curioso/a é a pessoa que entende de tudo um pouco; que é capaz de trocar desde uma lâmpada a um botijão de gás.
Mamãe vivia elogiando os maridos, filhos, genros e o restante da ala masculina da vizinhança por serem curiosos.
Papai era uma negação. Meus irmãos nem se fala.
Para fazer qualquer conserto, por menor que fosse, papai montava um esquema tático digno de filme de ação. Pelo amor de Deus!
Papai resolvia que naquele dia iria consertar o que estivesse para ser consertado e nós já sabíamos que aquilo não daria certo. E isso deixava papai mais doido ainda com a gente.
Papai dizia: "Hoje vou consertar aquela torneira do tanque que está pingando; é só colocar uma borrachinha nova".
"Vixe", dizíamos nós.
E para variar, lá vinha sermão.
Papai fechava o registro da água para trocar a borrachinha da torneira, mas tudo que conseguia fazer era uma bagunça danada. Papai deixava restos de borrachinha para um lado, panos molhados para outro, ferramentas e tudo o que estivesse perto e servisse de suporte técnico.
O serviço ficar imprestável, uma caca mesmo. Era preciso chamar um vizinho curioso para consertar os dois estragos: o que já estava ali e o que papai tinha feito.
Papai não gostava que duvidássemos de sua habilidade manual e consertadora (mais para destruidora) das coisas e gostava menos ainda quando mamãe nos mandava chamar o marido, genro ou filho de alguma vizinha.
Papai dizia: "Voceizi não me dão valor. Só sabem me omilhar, me créticar e abater minha moral. De hoje em diante não vou arrumar mais nada nessa casa!".
"Graças a Deus", pensávamos nós.
Papai também tinha seu ritual que seguia fielmente toda vez que se metia a arrumar alguma coisa; papai sempre pedia café e cigarro.
"Corre lá meninos, teu pai quer café e cigarro".
Papai sempre agoniado e apressado não tinha paciência para esperar passar o café e dizia que podia ser café velho mesmo. O cigarro tinha que ir aceso. Papai e mamãe fumavam que nem duas Caiporas e o curioso é que nenhum de nós seis filhos adquiriu esse horrendo hábito. Ainda bem.
Dia desses tentei subir na escada para trocar uma lâmpada queimada. Lembrei-me de papai. Depois troquei o botijão de gás. Lembrei-me de papai.
Fiz tudo isso sozinha e quase sem problemas. E sem café nem cigarro.
Papai.


                                    


                                      

Tudo ao mesmo tempo agora

Ontem dirigi pelas nem tão vazias ruas e avenidas paulistanas. 
Sim, não há o mesmo tráfego intenso, mas a Marginal Tietê e a Radial Leste estão sempre cheinhas, graças a Deus.
Mas foi até mais fácil estacionar em frente à Farmácia Alto Custo, geralmente tenho que dar umas voltinhas para encontrar uma vaga.
O problema ontem foi o excesso de pacientes para pegar seus remédios e o baixo número de funcionários para atender as pessoas.
Comentei com a moça que me atendeu e ela disse que por ser época de férias, havia mesmo poucos funcionários. 
Tá. Mas os problemas de saúde dos pacientes que lá estavam há horas não tiram férias. Adoraria mandar minha Acromegalia tirar umas férias e daria passagem só de ida para o Afeganistão! Com todo o respeito.
O calor também acaba comigo; me deixa mole e com a cabeça fervente. No frio o problema são as dores articulares.
Minha pressão estava alta ontem, 18x12 quando o normal é ou deveria ser 12x08. Tomei os medicamentos de rotina, mas a pressão não queria baixar. Tomei mais uma dose do anti-hipertensivo, conforme orientação da cardiologista, e finalmente consegui dormir. A cabeça parou de latejar e ferver.
Isso era lá pelas duas da manhã. Meus nobres vizinhos têm o simpático hábito de receber convidados e conversar até altas horas. Quando sossegam, lá pelas duas da manhã, é que se consegue algum silêncio. Mas eis que tem o motoboy que faz a segurança da rua e sua buzina de triciclo infantil. Lá pelas seis da manhã começam a chegar os funcionários das transportadoras da rua e o falatório começa. Ironicamente, há várias placas nos postes dizendo que é uma área restrita e é proibida a circulação de caminhões!. São três transportadoras, uma ao lado da outra!
Vai entender.
Além do barulho externo, conto com a ajuda dos meus gatos para fazer um barulhinho interno. Eles dormem o dia inteiro e a noite estão descansados e aptos para a bagunça e o barulho. Correm um atrás do outro, trocam tapas e patas e perseguem a bolinha com guizo que tem um som de trenó de Papai Noel. Atacam também a árvore de Natal e arrancam os enfeites e os rolam pela casa. Não vejo a hora de chegar dia 6 de janeiro, Dia de Reis, para desmontar a árvore e guardar os enfeites. Não sobrarão muitos e a maioria está espalhada pela casa. 
Como dizia papai: "Esses gatos são térrivi".
Sim...
Fui fazer mais exames, os pré operatórios e só fiz metade. Segundo o laboratório, o convênio médico está descredenciando alguns laboratórios particulares e quer centralizar tudo em seus postos de atendimento. Até aí tudo bem, mas o problema é que esses postos ficam em áreas distantes. O curioso também é que posso fazer apenas metade dos exames no laboratório onde estou/estava habituada a fazer e a outra metade terá que ser feita no tal dos postos de atendimento do convênio. Por que não pode fazer tudo junto de uma vez ao mesmo tempo agora?! Complicação do caramba, meu!
Estou entre as Zonas Leste e Norte e os postos do convênio estão na Zona Sul.
Encarar trânsito só para tirar um pouco de sangue e fazer um simples RX! Pelo amor de Deus. O povo procura pelo em ovo. Agora, se meu plano fosse ultra-mega-hiper-plus-super-golden-silver-fashion eu poderia fazer os exames onde bem entendesse, mas como é plano simples, tenho que me sujeitar às mudanças burrocráticas do convênio. Ohhhh pobreza!
Mas como dizia mamãe: "Sou pobre de dinheiro mas rica das graças de Deus". Amém.


                                       



terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Tia Dolores

                                                




Tia Dolores é irmã de mamãe e ao contrário de tia Antonia, é bastante despachada, engraçada e faladeira.
Tia Antonia é tímida, mais calada e conservadora.
Tia Dolores e tia Antonia moram em Buíque, Pernambuco.
Mamãe adorava viajar e sempre que possível, íamos juntos com ela.
Não tinha época certa para viajar; se fosse no meio do ano pegaríamos chuva, friozinho e névoa em Buíque, que fica a aproximadamente 800 metros acima do nível do mar. Se fossemos em dezembro, enfrentaríamos um calorão danado de grande. Ave Maria!
Além do calor tínhamos que encarar as muriçocas (pernilongos) e baratas enormes.
As baratas pernambucanas parecem ter o dobro do tamanho das baratas paulistanas. Fiquei espantada, assustada e com nojo desse inseto kafkaniano (Kafka nunca disse que o inseto no qual transformara-se Gregor Samsa [metafisicamente] era uma barata, no livro "A Metamorfose"). Beleza.
Tia Dolores percebe que me espantei com o tamanho da barata e diz, para me assustar mais ainda: "É, minha filha. As baratas daqui são bem grandes, visse? Elas até usam óculos!".
"Óculos, tia?! Oxe!".
"Arrepare o tamanho dos zóio delas. Não parece óculos?"
"Vixe. É mesmo tia. Que nojo!".
A tia continua no assunto insetívoro e me pergunta: "E lá em Sum Paulo tem muita muriçoca?"
"Tem sim, tia".
"E como é que vocês chamam as muriçocas de lá?"
"É pernilongo, tia"
"Pois aqui elas vêm sem a gente chamar".
A tia é muito engraçada e maluquetes.


 


                      

Geriatra

                                                


Geriatra é o médico que cuida do idoso. 
Estou na clínica aguardando ser atendida pelo endocrinologista, o Dr. Sandro Lopes. Um amor de pessoa e um médico muito atencioso, amável e gentil.
Nessa clínica há várias especialidades, como: gastroenterologia, nutricionista, dentista, endocrinologia, ginecologia e geriatria.
Há um enorme vai e vem de pacientes e dali a pouco entram uma senhora idosa com a filha. Devo ter um imã que atrai idosos, crianças, animais e loucos (ou deficientes mentais). Todos sempre puxam conversa comigo e eu dou trela para eles.
A senhora senta-se ao meu lado e começa a conversar comigo enquanto a filha faz o trâmite rotineiro de entregar carteirinha e assinar a papelada.
Em alguns minutos de conversa, onde só a simpática idosa conversa, fico sabendo que ela foi enfermeira, que morava na Zona Leste mas trabalhava em dois hospitais da Zona Sul, que na época que trabalhava não havia muita opção de transporte público, que criou a filha sozinha, que custeou os estudos da filha...Ufa!
Lá pelas tantas ela me pergunta: "E você vai passar com que médico?"
"Dr. Sandro. A senhora também?"
"Dr. Sandro é o quê?"
"Endocrinologista".
"Ahhhhhhh... Não. Vou passar com o doutor fulano de tal; ele é geriatra. Pensei que você fosse passar também com o geriatra. Mas, olha, se você precisar de um bom geriatra, o doutor fulano é muito bom. Recomendo, viu?".
E finalmente a simpática e falante idosa é chamada pelo doutor geriatra e eu sou chamada pelo endocrinologista.
Por enquanto não estou pensando em geriatra, pois tenho "apenas" que visitar cardiologista, neurocirurgiões, ortopedistas, endocrinologistas, otorrinolaringologistas...


                                             

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Olhar

                                         




Dirigindo pelas ruas do meu bairro e relembrando coisas, fatos e causos de anos passados.
Morávamos em uma casa pequenina de dois cômodos e com banheiro do lado de fora. O quintal da casa era enorme e cheio de plantas. Próximo ao grande portão de madeira havia o relógio da água e gostávamos de subir nele para ora esperar por mamãe e vê-la surgir na esquina e ora roubar as cerejas da cerejeira da vizinha.
Segundo nossos argumentos nem tão politicamente corretos, a parte da árvore que dava para nosso quintal pertencia a nós. Então tínhamos o direito de nos saborear com as cerejas sem nos preocuparmos com as reclamações da vizinha, sua dona.
Na rua de nossa casa pequenina havia uma transportadora de gaúchos. O Rio Grande do Sul tem grande tradição no transporte de cargas e caminhões aqui em São Paulo. Outra coisa bacana é o fato de ser muito comum mulheres caminhoneiras desse estado brasileiro. Eu achava lindo ver mulheres dirigindo, ainda mais se fossem caminhões.
Os caminhoneiros sempre iam à nossa casa e adoravam conversar com mamãe, que ouvia pacientemente as histórias deles e os aconselhava sempre a não beber e dirigir, a descansar antes de pegar a estrada, a cuidar bem da mulher e dos filhos, a não tomar remédios para ficarem acordados a noite toda; enfim, conselhos de mãe mesmo.
Alguns deles viajavam com as esposas e filhos e os deixavam em nossa casa quando precisavam resolver problemas na capital paulistana.
Nos fins de semana faziam churrasco tipicamente gaúcho, tomavam vinho e cerveja, cantavam e até choravam. Os mais solitários e apaixonados lembravam dos filhos e das esposas que estavam longe e se debulhavam em lágrimas. Outros choravam dores de corno mesmo.
Era uma choradeira e bebedeira sem fim.
Na manhã seguinte apareciam em casa todos tímidos e com vergonha da choradeira e declarações da noite anterior. Mamãe dizia: "Oxe, deixe disso, meus filhos. Chorar é normal, você não é gente? Então. Gente chora. Quem foi que disse que homem não chora? Oxe, deixe de bobagem; entre aqui, venha tomar um café". 
E dali a pouco o chorão apaixonado já estava sorrindo e planejando mais um churrasco com cantoria e lágrimas, claro.
Muitos deles pediam para mamãe lavar e passar suas roupas. Eu ajudava mamãe nessa tarefa. Mamãe não queria receber, era uma forma de retribuir pelos churrascos e mimos trazidos do sul do Brasil. Nos davam pães típicos da região, as chamadas cucas, queijos, salames, as próprias carnes para o churrasco e tudo o que sobrasse das cargas dos caminhões. Às vezes o cliente não queria receber as cargas por estarem próximas do prazo de validade, então o gerente da transportadora autorizava os caminhoneiros e ajudantes a dividi-las entre eles.
Era legal ouvir aquele sotaque cantado e bonito.
Era legal ver aquelas crianças e pessoas de pele tão clarinha que pareciam vindas de outro país.
Era legal ver a forma como assavam a carne, bem diferente de nós.
Estranhávamos o sabor do chimarrão e dizíamos que tinha gosto de café forte sem açúcar.
Achávamos engraçado aquelas calças largas que alguns deles usavam e ríamos do jeito que eles usavam o cobertor: faziam um buraco no meio que desse para passar a cabeça e o usavam como um xale. Mamãe dizia que estragavam o cobertor.
Uma bela tarde de sol volto da escola onde fora fazer minha matrícula para o segundo grau (Ensino Médio) e vejo uma carreta gigante estacionada em frente de nossa casa. Apresso os passos para chegar logo, achando que deve ser algum caminhoneiro que fora buscar as roupas limpas para poder seguir viagem. Eu tinha lavado as roupas e as deixado no varal para secar e iria passá-las quando voltasse da escola.
Entro em casa e começo a tirar as roupas do varal e paro para olhar a carreta. Sabe quando tem-se a sensação de que alguém nos está observando?
Olho para a cabine e vejo um homem moreno e bonitão secando os cabelos molhados de quem tinha acabado de sair do banho. Ele para e olha para mim e eu devolvo o olhar. Eu pensei que ele iria perguntar alguma coisa a respeito de roupas lavadas e passadas. Mas não. Não houve palavras, apenas olhares.
Demorei o triplo do tempo para tirar as roupas do varal. Eu olhava para aquele homem bonito dentro daquela cabine de caminhão. Ele olhava para mim.
Me perguntava: "Será que viaja sozinho? Será que tem esposa e filhos? Deve ter; bonitão assim".
Aqueles momentos de troca de olhares foram como uma eternidade, uma paz. Alguém olhava para mim e olhava com certo interesse. Interesse romântico e não interesses vulgares como a maioria nos dias de hoje. 
Senti-me importante, apreciada, querida. 
Se ele olha para mim é porque gostou e se gostou é porque não me achou feia. Foi isso que me deixou feliz por alguns momentos.
Mas dali a pouco mamãe volta do trabalho e pergunta se as roupas dos moços caminhoneiros estão prontas, se os irmãos menores já tomaram banho, se o feijão já está no fogo, se isso se aquilo.
Entro em casa e me entrego às infindáveis tarefas. Anoitece. Tomamos banho, jantamos, assistimos a novela e vamos para a cama. Exatamente nessa ordem, de acordo com os ditames de papai. Amanhã tudo de novo. 
Me levanto bem cedo na esperança de ver a carreta gigante estacionada na frente de casa. Mas não estava mais; havia outra no lugar.
E todas as tardes eu esperava ansiosamente pela carreta do moreno bonitão. Esperava trocar mais olhares e sorrisos tímidos.
Mas nunca mais vi a carreta. Nunca mais vi o moreno bonito.
A transportadora mudou-se para outro endereço e meses depois nós também nos mudamos de casa.
E à vezes a imagem do caminhoneiro bonito vem à minha cabeça e viajo nas doces e curtas memórias de um belo fim de tarde. Um belo fim de tarde sob belos olhares de um belo caminhoneiro.


                                              



Léo Caramelo & Morena Rosa

Léo Caramelo 
                                         


É público e notório meu amor por animais e pela Natureza.
Alguns desses meus amores ilustram as humildes páginas desse meu humilde blog.
Mas o problema é que as pessoas perceberam esse meu amor e fazem proveito disso. Explico.
Domingo de Natal retorno da casa de meu irmão e o vizinho me chama: "Olha, alguém largou quatro gatinhos aqui na rua; minha irmã pegou um, eu peguei outro e joguei os outros dois no seu quintal. Beleza?"
Beleza.
Entro e vejo dois gatinhos magrinhos, pequeninos e desprovidos temporariamente de beleza física. Mas eles têm atitude e personalidade!
Alimento, trato, cuido e faço uma caminha confortável e aconchegante para eles.
Meus gatos não gostam muito dos novos visitantes e possíveis membros da minha humilde residência. Olham desconfiados, ficam enciumados e manhosos.
Hoje Ébano conseguiu se aproximar de Morena Rosa e ela está aos poucos permitindo a aproximação.
Morena Rosa é siamesa mas ainda se parece com um ratinho. Ficará linda quando crescer mais um pouco. Ela manca da pata traseira, mas já está se recuperando bem.
Léo Caramelo é tigrado e dourado e se parece com um leãozinho.
E para não dizer que quero ficar com todos os gatos só para mim, perguntei a todas as pessoas que conheço se elas queriam ficar com os gatinhos ou se conheciam alguém que quisessem. A maioria das pessoas disse que preferiam cães a gatos. Acho que diriam o contrário se eu oferecesse cãezinhos. Tudo bem.
E aqui estou eu com seis felinos adoráveis, mimados, manhosos; porém fiéis companheiros de maluquez.


Morena Rosa
                                       

Respeito pelos mais velhos

Meu sobrinho Demétrius faz aniversário no dia 30 de dezembro e a filha de uma conhecida nossa faz aniversário no dia 31. A idade de ambos é a mesma; só a diferença de um dia para o outro.
Demétrius era menorzinho quando ficou sabendo dos aniversários próximos e disse:
"É tia Rejane, eu faço aniversário antes; então ela vai ter que me respeitar porque eu sou mais velho. Né não?"
Claro que sim!.
Sempre o respeito aos mais velhos.


Marcos Paulo e Demétrius (da esquerda para a direita)
                                         

Mesmo assim

Acabo que pegar meus exames trimestrais; são exames que faço para poder pegar o remédio Sandostatin-LAR (acetato de octreotide).
O remédio é usado no combate/controle da Acromegalia e por se tratar de um remédio caro, é necessário a realização de exames a cada três meses, relatórios médicos e preenchimentos de fichas e papeladas burocráticas. É rotina. É normal.
A dose que tomo, 20mg, custa aproximadamente R$ 6.000.00 (seis mil reais) e segundo o pessoal da Farmácia Alto Custo, é feita auditoria mensal na farmácia para saber quantas doses do remédio foram distribuídas, que médicos as receitaram e que pacientes as retiraram. Tudo para evitar fraudes e abusos. Em 2010 lembro-me de dois assaltos consecutivos à Farmácia Alto Custo de um bairro da zona sul de São Paulo. Em duas semanas foram levadas verdadeiras fortunas em remédios. Alguns medicamentos puderam ser salvos, mas aqueles que necessitam de refrigeração, como o Sandostatin-LAR,  não puderam ser. Foi prejuízo financeiro e mais ainda para a saúde dos pacientes que dependem desses remédios. 
Mas eu falava do resultado dos meus exames mais recentes.
Bom...
Os resultados não são lá muito animadores; os níveis de GH (Growth Hormone - Hormônio do Crescimento) estão ainda altos e isso quer dizer que o tumor está em atividade. Mesmo com cirurgias, radiocirurgia e remédios, a "porquêra" da Acromegalia está na ativa. 
Cacete do Padre Inácio!
Mas lembro que estou viva e tem gente em pior situação. Agradeço por estar viva e peço por essas pessoas. Como dizia mamãe: "Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que diz".
Não sei se fico triste ou chateada ou os dois juntos. Não sei se deveria me conformar e aceitar, pois todo o tempo é assim; sejam exames trimestrais, mensais, de imagem, de sangue...Não importa. Todo exame que fizer lá estará a Acromegalia marcando presença no tumor de meu cérebro e nos achaques do meu corpo. Cansaço, diabetes, hipertensão, artrose, cabeça "fervente".
Falei hoje com o endócrino e ele me disse para ir vê-lo amanhã. Falo direto com meus médicos, pois se eu ligar para as secretárias/recepcionistas deles, irão dizer para "estar ligando depois para estar marcando para o fim do mês começo do outro". Mas o problema é que "vou estar precisando ver meu médico para estar levando os exames para estar pegando o remédio para estar controlando a Acromegalia".
A doença do português ruim é pior que a doença do crescimento. Jesus!
É isso aí.
Vou agora ao laboratório, depois à clínica oftalmológica e esta semana ainda vou tomar a terceira e última dose da injeção no joelho (artrose). Depois mais exames para verificar a evolução do quadro. E depois de ver o endócrino irei à Farmácia Alto Custo com a papelada e exames para pegar o remédio. Ufa!
Esse mês também tem retorno ao trabalho - Oba!!! 
Acho que sou uma das poucas pessoas que gosta de trabalhar. Ah... e dia 21/01 tem cirurgia marcada para correção de fístula liquórica. Vamos ver se agora sai e tudo vai dar certo.
Vai sim.