quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cera

                                          




Antigamente tínhamos o hábito de encerar o piso da casa. Naquela época o piso era de madeira na maioria das casas e havia também vários tipos e cores de ceras. Hoje a madeira foi substituída por cerâmica.
Usávamos cera em pasta, mais barata. As mãos ficavam manchadas e cheirando à cera por um bom tempo e encerávamos a casa toda sexta-feira, o dia nacional da limpeza.
Abríamos a lata de cera, passávamos uma boa quantia numa flanela e esfregávamos no chão. Esperávamos secar e depois dávamos brilho com um pano macio. Era ótimo exercício físico para pernas, braços e glúteos.
Enceradeira era objeto de nosso desejo. Achávamos chiquérrimo passar a enceradeira no piso depois de encerá-lo. 
Tínhamos uma vizinha toda metida a falante. Ela forçava as sílabas e os "s" e "r" das palavras. Metida por demais. Boa pessoa, mas muito metida.
Meus irmãos eram os paus mandados da vizinhança; tudo que as vizinhas precisavam comprar no mercadinho do bairro pediam autorização a mamãe para mandar meus irmãos comprarem.
Essa vizinha falante chama mamãe e pede: "Dona Marlene, posso mandar seu menino ir ao mercado para mim?"
"Sim, minha filha. Diga o que você quer. Venha cá Rogério, venha".
Meu irmão Rogério se aproxima e escuta o pedido: "Traga uma lata de sardinha em óleo comestível e uma lata de cera Parquetina".
Mamãe pergunta: "O fulana. E tem sardinha em outro tipo de óleo, tem?".
Rogério repete o pedido para confirmar e evitar erros: "Uma lata de saidinha de óleo e uma lata de cera pra cretina".
Meu irmão é meio Cebolinha com o "r".
"Não, Rogério. Uma lata de sardinha em óleo comestível e uma lata de cera da marca Par-que-ti-na".
Ah bom.


                                               


                                       

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixem comentários, adoro saber o que pensam sobre o blog. Obrigada ;-)