quinta-feira, 3 de maio de 2012

Moleques da Ponte

Atrás da casa onde morávamos havia um córrego.
Havia também uma ponte de madeira que muitos chamavam de pinguela.
Alguns parentes e conhecidos moravam do outro lado do córrego, mas bastava atravessar a ponte e logo chegaríamos ao nosso destino.
Naldão e Rogério não atravessam a ponte; eles davam a volta pelo quarteirão, o que era mais demorado. Quando voltavam para casa, mamãe perguntava porque demoraram tanto e eles diziam que tinha uns moleques na ponte impedindo a passagem.
Coragem não é a característica mais marcante de nossos irmãos.
Naldão e Rogério já chegaram em casa muitas vezes correndo e fugindo dos moleques da ponte; arrumavam confusão e corriam. Algumas vezes os moleques iam até o portão de nossa casa e esperavam meus irmãos saírem, mas eles não saíam nem por decreto.
Outras vezes os moleques da ponte esperavam meus irmãos na saída da escola.
Quando arrumavam problema e tinham medo dos moleques da ponte, Naldão e Rogério pediam minha ajuda. Eles iam na frente e eu atrás, observando e disfarçando.
A molecada se aproximava. Naldão e Rogério munidos de repentina coragem desafiavam: "Se  vocês baterem na gente eu chamo minha irmã".
"Então chama sua irmã que eu quero ver".
Como reza a cartilha machista, o "certo" seria os irmãos protegerem a frágil e doce irmã, mas com nossos corajosos irmãos, acontecia exatamente o contrário.
Eu me aproximava, a molecada me encarava.
Eu dizia que se encostassem um dedos nos meus irmãos o pau comia!
E o pau comia mesmo! Era porrada para todos os lados!
Quando mamãe voltava do trabalho sempre encontrava a mãe de um dos moleques a esperá-la no portão: "Dona Marlene, sua menina bateu no meu filho, o coitadinho está todo machucado, diga a ela para não fazer isso mais não".
Mamãe desculpa-se com a mãe da pobre vítima, me fulmina com o olhar e entramos em casa; começa o sermão.
Eu tento argumentar dizendo que apenas defendi meus irmãos bundões e que os moleques da ponte eram grandes e muitos, Oxe!
No dia seguinte, mais uma vez os moleques da ponte a ameaçar meus bravos irmãos e mais uma vez os moleques da ponte iriam levar porrada!
Hoje estamos todos adultos e a maioria casada e com família constituída.
Hoje somos todos da paz.
Amém.




                                  

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