sexta-feira, 6 de abril de 2012

Botas

                                            


Papai era rapaz novo e morava com pai, o avô José, e com os irmãos Bill, Manoel e Genaro.
Eles gostavam muito de ir aos bailes animados ao som de muito forró. Esses bailes aconteciam nas casas e fazendas de amigos e conhecidos que moravam a algumas léguas de distância uns dos outros. 
O uso do termo légua caiu em desuso, mas os Nordestinos mais antigos ainda utilizam a denominação para se referir à distância que varia de seis a sete quilômetros de distância/comprimento.
Bom...
As idas a esses bailes eram feitas a cavalos ou a pés. 
Nordestinos sabem que caminhos percorrer.
As caminhadas ou cavalgadas iluminadas pela luz da lua naquelas belas serras de Mundo Novo, Taquari, Poços, Conselheiro Rodrigues, Cumaru.
Dessa vez papai caminharia calçado em suas novas botas compradas especialmente para usar no baile.
O baile termina após muito rala bucho e arrasta pé e é hora de voltar para casa. É madrugada e papai toma o rumo de casa e começa a ouvir um som estranho a segui-lo: "nhec nhec...".
Papai para e o barulho também. Papai volta a caminhar e o barulho volta a "segui-lo". Papai acelera o passo e o barulho fica mais forte. Papai pensa que tem alguém ou alguma coisa a segui-lo.
O barulho e o medo estão ficando cada vez mais fortes.
Papai, muito corajoso, aperta o passo e anda o mais rápido que pode; finalmente chega em casa todo esbaforido.
Tio Manoel Soares vendo irmão pálido de medo, pergunta: "O que foi que tu visse, Dedé?"
"Olhe, Mané, derna (desde) que eu saí do baile que esse barulho estranho me segue. É um nhec nhec danado de grande, olho para os cantos e não vejo nada. Valha-me Deus e meu Padim Ciço do Juazeiro!"
Papai caminha em direção ao quarto e o nhec nhec volta a assustá-lo, tio Manoel olha para o irmão e diz: "Oh Dedé, tu arreparasse que o barulho vem da tua bota?"
Papai com cara de bobo, diz: "Oxe! E não é mesmo Mané?!"


                                                     

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