sexta-feira, 27 de abril de 2012

Figura

                                            


Dona Maria iria viajar para São Paulo para visitar filhos e netos.
Dona Maria morava sozinha e tinha muito carinho para com suas plantas, principalmente seu amado pé de chuchu. Foram esses mesmos os chuchus roubados por mamãe que mataram nossa fome, certa vez.
Dona Maria deixa a chave da casa com mamãe e diz que ficará apenas uns quinze dias em São Paulo e pede que não deixe de aguar (regar) suas plantas.
Passara-se um mês e nada de Dona Maria voltar e eu digo a mamãe que a vizinha estava em casa sim, pois eu a vira colocando umas panelas no fogão à lenha. Eu tinha visto por debaixo da porta.
Mamãe trabalhava para uma família rica em Gravatá e a patroa tinha um menino chamado Cristiano e ele sempre ia lá em casa para brincar comigo.
Passamos pela cerca de madeira e entramos no quintal da vizinha; paramos para espiar por debaixo da porta e vemos uma figura alta e esguia vestida de preto. A figura não toca o chão, parece flutuar e não é possível ver seu rosto, pois está coberto por um capuz.
A figura anda pra lá e pra cá e alimenta o fogo do fogão à lenha. Panelas grandes e esfumaçantes; a figura mexe as panelas e parece ter pressa em terminar logo aquele preparo.
A figura deixa o fogão e vem em direção à porta, Cristiano e eu corremos de volta para casa e falamos juntos: "Tem uma pessoa na casa da Dona Maria!"
Mamãe diz: "Será? Mas se Dona Maria tivesse chegado teria chamado a gente pra conversar e pra pegar a chave dela. Oxe!".
Mamãe e Mãevelha pegam a chave e vão até a casa da vizinha, abrem a porta e encontram tudo como Dona Maria havia deixado; não havia fogo aceso e nem panela nenhuma.
Levamos broncas por termos inventado uma história absurda daquelas: "Se vocês não têm o que fazer, nós temos, visse? Meninos danados!"
O carteiro vem entregar o bendito e tão esperado dinheiro de São Paulo e entrega também uma correspondência vinda da família de Dona Maria endereçada à mamãe: Dona Maria havia falecido e em breve alguém da família viria a Gravatá para tratar da venda da casa e que até lá mamãe fizesse a gentileza de olhar a casa e aguar as plantas.


                                           


                                         

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