sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pista

                                           


Morávamos em Gravatá, Pernambuco, e nossa casa ficava próxima à rodovia, mas nós dizíamos pista.
Corríamos para fora para vermos os carros e os ônibus passarem; era um novidade e uma festa para nós.
Quando passavam ônibus na pista, meu Paipreto dizia: "Eita que aquele ôinbus vai é pra Sum Paulo".
Fim de tarde bonito, céu azul, nuvens brancas e fofas como algodão, chão de terra vermelha.
Brincávamos de "Gata pintada, quem foi que te pintou, foi a véia catingueira e por aqui ela passou..."
Ouvimos um estrondo e vamos ver o que é; toda a vizinhança sai de suas casas para saber a causa daquele barulho assustador. Caminhamos até a pista e lá vemos um carro vermelho de passeio com uma moça ao volante e um senhor branco, gorducho e careca no banco do carona. Vidros estilhaçados por todo o carro e pelo corpo e rosto dos passageiros. Sangue também.
Um dos curiosos presentes na cena diz: "Foi um desastre".
Hoje dizemos acidente automobilístico/de trânsito, antes era desastre.
Mãevelha me tira dali e me manda de volta para casa; aquilo não era coisa para criança ver.
Olho de novo para as pessoas dentro do carro, deveriam ser pai e filha.
Alguém diz que estão mortos e que a polícia está a caminho.
A moça está debruçada sobre o volante e o senhor está com o corpo jogado para trás e encostado no banco, ele tem vidro e sangue por todo o rosto e corpo, ele sorri para mim.
Tento dizer às pessoas ali em volta que aquele homem não está morto, ele sorriu para mim, é preciso ajudá-lo.
Mãevelha e as pessoas em volta dizem que criança fala cada coisa!




                                           




                                     

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