Adoro fotografar, mas nunca gostei de ser fotografada. Hoje muito menos ainda; culpa da Acromegalia.
Antigamente, tirar fotos não era tão fácil, acessível e barato e só em ocasiões especiais chamava-se o fotógrafo.
Lembro que muitos deles passavam de porta em porta oferecendo seus serviços e eram comum trazerem consigo um carneiro ou burrinho pintado com cores berrantes. Eu não gostava daquilo de jeito nenhum, ficava preocupada com o bem estar do pobre animal. Será que aquela tinta era atóxica?
Detestava quando ia à feira com mamãe e via pintinhos coloridos sendo vendidos, queria pegar todos para mim, mas não podia.
Bom...
As fotografias de papel eram mais raras, para nós, pelo menos. Era muito comum o uso de monóculos, tínhamos que aproximar bem o olho da lente e ver ao foto ao fundo. Era legal.
Aliás, lá no meu Pernambuco, dizíamos retrato e não usávamos os termos foto ou fotografia.
Lembro de uma tarde em que vi minhas primas Vera e Lúcia vestidas em novos e lindos vestidos, calçadas com meias brancas e sapatos de verniz pretos e cabelos arrumados e enfeitados com laço de fita; iam tirar um retrato.
Eu queria também.
Corri para casa e chamei mamãe e pedi para também tirar um retrato, mas mamãe disse que não podia, não tinha como pagar o retratista.
Fiquei tão triste.
Eu já tinha um retrato que havia tirado ao lado de uma prima e isso bastava. Eu tinha três anos e estava vestida com as roupas e meias brancas feitas por mamãe e os cabelos cacheados presos em laços de fita feitos por minha prima, que gostava muito de mim.
Dois ou três anos depois estamos em São Paulo e sou fotografada com minha irmã Rosi no colo, eu tinha sete anos. Foram feitas piadinhas sobre minha aparência e meu volumoso cabelo cacheado. Não quis mais ser fotografada.
Anos depois venci, razoavelmente, a aversão à fotografias, mas eis que surge a Acromegalia e traz tudo de volta.
Olhava fotografias minhas tiradas na praia, sempre perto do meu amado mar oceano; eu não era bonita, mas eu era "normal".
Olhava fotografias minhas tiradas durante a festa de aniversário de minha sobrinha; eu não era bonita nem "normal", eu sou acromegálica e isso não é nada bonito.
Isso machuca, deforma, destrói, dilacera o corpo e a alma.
Não vejo a "cara de homem" que as pessoas tanto gostam e insistem em dizer, vi apenas um "carão" branco, feio, estranho, melancólico e acromegálico.
Sei lá...
Perdoa-me Deus em minha insensatez, mas... Talvez não teria sido melhor se eu tivesse partido durante a cirurgia que quase me matou? O coma e a Morte me rondando e que por três vezes quase me levou...
Não, não seria justo. Tanta gente boa pedindo por mim e eu tenho mais é que agradecer. Não seria justo desperdiçar e desmerecer tanta bondade, tanta fé, tantas orações, tanto trabalho.
Meus dias não têm sido nada bons, ultimamente. Será que dias melhores virão?
Tomara, meu Deus, tomara.
Amém.
Eu me lembro perfeitmanete. Na época, como menina do interior, eu achava uma "Gracinha" estes binóculos.
ResponderExcluirAinda tenho um slide da foto de Mamãe e Papai.
Velhos Tempos. Faz parte de nossa História.
Abraços