sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Retrato

                              

Adoro fotografar, mas nunca gostei de ser fotografada. Hoje muito menos ainda; culpa da Acromegalia.
Antigamente, tirar fotos não era tão fácil, acessível e barato e só em ocasiões especiais chamava-se o fotógrafo.
Lembro que muitos deles passavam de porta em porta oferecendo seus serviços e eram comum trazerem consigo um carneiro ou burrinho pintado com cores berrantes. Eu não gostava daquilo de jeito nenhum, ficava preocupada com o bem estar do pobre animal. Será que aquela tinta era atóxica?
Detestava quando ia à feira com mamãe e via pintinhos coloridos sendo vendidos, queria pegar todos para mim, mas não podia.
Bom...
As fotografias de papel eram mais raras, para nós, pelo menos. Era muito comum o uso de monóculos, tínhamos que aproximar bem o olho da lente e ver ao foto ao fundo. Era legal.
Aliás, lá no meu Pernambuco, dizíamos retrato e não usávamos os termos foto ou fotografia. 
Lembro de uma tarde em que vi minhas primas Vera e Lúcia vestidas em novos e lindos vestidos, calçadas com meias brancas e sapatos de verniz pretos e cabelos arrumados e enfeitados com laço de fita; iam tirar um retrato.
Eu queria também.
Corri para casa e chamei mamãe e pedi para também tirar um retrato, mas mamãe disse que não podia, não tinha como pagar o retratista. 
Fiquei tão triste.
Eu já tinha um retrato que havia tirado ao lado de uma prima e isso bastava. Eu tinha três anos e estava vestida com as roupas e meias brancas feitas por mamãe e os cabelos cacheados presos em laços de fita feitos por minha prima, que gostava muito de mim.
Dois ou três anos depois estamos em São Paulo e sou fotografada com minha irmã Rosi no colo, eu tinha sete anos. Foram feitas piadinhas sobre minha aparência e meu volumoso cabelo cacheado. Não quis mais ser fotografada.
Anos depois venci, razoavelmente, a aversão à fotografias, mas eis que surge a Acromegalia e traz tudo de volta.
Olhava fotografias minhas tiradas na praia, sempre perto do meu amado mar oceano; eu não era bonita, mas eu era "normal".
Olhava fotografias minhas tiradas durante a festa de aniversário de minha sobrinha; eu não era bonita nem "normal", eu sou acromegálica e isso não é nada bonito.
Isso machuca, deforma, destrói, dilacera o corpo e a alma.
Não vejo a "cara de homem" que as pessoas tanto gostam e insistem em dizer, vi apenas um "carão" branco, feio, estranho, melancólico e acromegálico.
Sei lá...
Perdoa-me Deus em minha insensatez, mas... Talvez não teria sido melhor se eu tivesse partido durante a cirurgia que quase me matou? O coma e a Morte me rondando e que por três vezes quase me levou...
Não, não seria justo. Tanta gente boa pedindo por mim e eu tenho mais é que agradecer. Não seria justo desperdiçar e desmerecer tanta bondade, tanta fé, tantas orações, tanto trabalho.
Meus dias não têm sido nada bons, ultimamente. Será que dias melhores virão? 
Tomara, meu Deus, tomara.
Amém.

                                 

                                

Um comentário:

  1. Eu me lembro perfeitmanete. Na época, como menina do interior, eu achava uma "Gracinha" estes binóculos.
    Ainda tenho um slide da foto de Mamãe e Papai.
    Velhos Tempos. Faz parte de nossa História.
    Abraços

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