quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Aula de Música

                                


Tivemos aula de música da primeira até a quarta série do Ensino Fundamental I, o antigo primário. Descíamos para a sala de música, nos sentávamos em círculo e cantávamos as músicas trazidas pela professora.
Era tão bom.
Cantava e ao mesmo tempo ficava preocupada com a vida e a segurança dos dez indiozinhos que tentavam atravessar o rio no pequeno bote e o terrível jacaré a se aproximar. Que medo!
Tentava aprimorar e coordenar minha habilidade motora fina ao jogar as pedrinhas e cantar escravos de Jó jogavam caxangá, (ou cachangá?).
Ficava entristecida com o coração partido da pessoa que recebera o anel do amado: o anel que tu me deste era de vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou...
E tinha as músicas que hoje soam politicamente incorretas, pois têm cunho racista e fazem apologia à violência: Samba Lelê está doente; está com a cabeça quebrada; Samba Lelê precisava é de umas boas lambadas...
Violência, preconceito e racismo.
Plantei uma cenourinha no meu quintal, nasceu uma neguinha de avental; dança neguinha, não sei dançar, pega o chicote que ela dança já.
Havia também música que fazia apologia à violência contra animais: Atirei o pau no gato, mas o gato não morreu...
Por que tanta maldade para com um bicho inocente? Lei de proteção aos animais; Decreto Federal 24.645/34
Gostava da briga de casal entre o cravo e a rosa: O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido e a rosa despedaçada...
Crime passional, violência contra a mulher; Lei Maria da Penha.
Ficava triste com a solidão do anjo que morava no bosque: Nessa rua, nessa rua tem um bosque, que se chama, que se chama solidão, dentro dele, dentro dele mora um anjo, que roubou, que roubou meu coração...
Às vezes, muitas vezes, o amor é tão impossível, tão doloroso...
A punição para o soldado que não marchasse direito: Marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar direito, vai preso pro quartel...
Fui para a quinta série e esperei pelas aulas de música. Quando desceríamos para a sala de música, nos sentaríamos em círculo e cantaríamos? Talvez nas próximas semanas, pois as aulas apenas começaram... 
Eu me fazia as perguntas e as respondia, mas as aulas começaram, vieram as provas, as férias de meio de ano e nada de aula de música. Percebi que não teríamos mais aula de música. Que pena!
Mas teríamos aula de educação artística, ou aula de artes, como dizíamos, e era bem interessante. Eu adorava pintar e fiz pintura em tecido, gesso e vidro. Era bem legal.
Mas eu queria cantar.
É isso.


                              


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