segunda-feira, 5 de março de 2012

O amor é lindo

                                             


Minha bisavó Maria Higinia, ou Gina, como era mais conhecida, era muito hábil com as palavras e muito inteligente. Bisavó não tinha papas na língua e falava o que bem pensava e lhe aprouvesse.
Minha avó Mãevelha era filha de bisavó Gina e tinha a mesma língua inquieta.
Elas não gostavam de muita frescura nem de meias palavras e diziam o que precisava ser dito: "Gostou? Então coma mais. Não gostou? Então lasque-se!".
Dona Gina e Mãevelha não gostavam de ver muita frescura romântica entre casaizinhos apaixonados; sabe o casal que fica se beijando o tempo todo e na frente de todos e qualquer um? Pois é.
Acho que amor também tem limites e não somos obrigados a presenciar o quão apaixonado/a alguém está. Pra tudo tem local, hora e razão.
"Tudo demais é veneno", já dizia meu avô Paipreto, outro "inguinórante" inveterado.
Quando bisavó sabia de brigas de casais que até outro dia viviam aos beijos, dizia: "É meus filhos... O amor quando é novo come do pão e do ovo, mas quando é velho come do mádoscachorro".
Bisavó e Mãevelha também não gostavam dos tratamentos excessivamente melosos e amorosos entre casais; para elas, o correto era chamar a pessoa amada pelo seu nome próprio e não por nomes carinhosos demais, pegajosos demais e até ridículo demais.
Coisas como: "docinho, pitchulinha, vida, amorzinho, universo, galáxia..." deveriam ser usados nos momentos de intimidade do casal e não em público.
Havia um casal de parentes que vivia aos tapas e beijos e a esposa sempre ia à nossa casa para pedir ajuda e conselhos de mamãe e Mãevelha. Já estávamos em São Paulo e bisavó Gina fora ao encontro de bisavô Francisco.
Nossa parenta sempre chegava à nossa casa aos prantos, olho roxo e o corpo e o rosto coberto de porrada e lá ia mamãe aconselhar, falar, blá, blá, blá. 
Não havia Lei Maria da Penha naquela época.
Dali a algum tempo o parente espancador apaixonado ia buscar a digníssima esposa e ambos voltavam para casa sob as bençãos da paz e do amor. Por pouco tempo.
No dia seguinte mamãe e Mãevelha iam visitar o casal reconciliado e encontravam os pombinhos trocando palavras doces em seu ninho de amor: "amorzinho, coração, docinho de coco, você é o fubá do meu cuscuz, a cana da minha rapadura, o sangue da minha galinha a cabidela, o bode da minha buchada..."
Mãevelha e mamãe ouviam aquilo e ficavam indignadas, pois apenas um dia atrás os dois pombinhos só faltavam se matar e agora aquela frescura toda.
Mas o amor é lindo.
Só o amor constrói.


                                          

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