domingo, 25 de março de 2012

Abraço de Mamãe, Fazenda e Família

                                                                          


Choveu muito ontem à noite e demorei a dormir; aproveitei para ler mais um pouco.
Lá pela uma hora da manhã eu adormeço, mas exatamente à uma e meia sou acordada por um grito. Era a vizinha descompensada, neurótica, sem educação, sem "semancol" e que não respeita a hora do sono dos outros.
A família dessa vizinha tem hábitos estranhos: vão dormir às duas ou três da manhã e acordam lá pela uma hora da tarde.
Bom, acordei assustada com o grito e as vozes que discutiam, brigavam e falavam palavrões em plena madrugada.
Essas pessoas não sabem resolver os problemas de casa de uma maneira mais civilizada? Tanta gritaria e baixaria! Nossa!
Levantei, andei pela casa, conversei com meus gatos que também tiveram seu soninho interrompido e voltei para a cama. 
Por volta das três da manhã as vozes calaram e eu pude voltar a dormir. 
Sonhei com mamãe, entre muitas outras coisas e pessoas.
Caminhava com mamãe e chegamos a um determinado local onde deveríamos nos despedir e nos separar. Mamãe precisava voltar e eu não poderia ir com ela.
Mamãe me abraça demoradamente, com força, com muito carinho e com muito amor.
Sinto os braços de mamãe a envolver-me, descanso minha cabeça no peito de mamãe.
É tão bom, meu Deus.
Quero ficar abraçada a mamãe, não quero que ela vá embora. Quero aquele aconchego, aquela proteção, aquele amor...
Mas mamãe precisa ir. Mamãe se afasta lentamente de mim e eu, criança de novo, estico meus braços para alcançar mamãe, choro, grito, chamo por mamãe: "Mãe! Mãe!".
Acordo chorando e gritando por mamãe.
Como dizia meu Paipreto: "Não cai uma folha de mato sem que Deus não queira". Para tudo tem um motivo, uma razão de ser. Nada é à toa.
Esse abraço de mamãe...
E é sempre assim e eu deveria saber e nunca me esquecer que é sempre assim: Caminho de mãos dadas com mamãe, com meu Paipreto...Sou criança de novo e na hora de nos despedir, choro igual a criança. Acordo chorando igual a criança e chamando por mamãe e por meu Paipreto.
Sou criança de novo  quando "visito" a antiga fazenda de chão batido e fogão à lenha.
Sou criança de novo a observar os homens e as mulheres trabalhadores de minha família. As mulheres trabalham na cozinha a preparar os alimentos típicos de nosso sertão pernambucano. 
Mãevelha, tia Anália, Madrinha Quixaba, Tia Nifa e muitas outras mulheres de meu povo antigo a manter o fogo vivo, a descascar o milho, a mandioca, a debulhar o feijão...
Meu avô José com seus belos e tristes olhos verdes, sempre a observar tudo, sem dizer palavra, sempre montado em seu inseparável cavalo. Meu avô José fala com seus olhos.
Bisavô Francisco e bisavó Gina sempre juntos; ele calmo e tranquilo e ela sempre agitada, pra lá e pra cá. Bisavó tem sempre um galhinho de alguma erva em suas mãos: manjericão, alecrim, capim santo, hortelã...
É muita gente a trabalhar; são os mais velhos, os mais jovens, as crianças...
Nessa fazenda não tem descanso, todos trabalham por alguma causa, algum motivo e é sempre em prol de algum de nós daqui desse lado da vida.
Na casa verde azulada onde estão Paipreto, Mãevelha e mamãe há descanso e o trabalho é apenas o de rotina de uma casa comum. Paipreto trabalha com suas ferramentas em uma casinha no quintal dos fundos e mamãe e Mãevelha cuidam da horta com pés de couve e cebolinha sempre verdes, fresquinhos e bonitos.
É hora de voltar de minhas visitas.
É hora de acordar adulta e chorando como se fosse criança. 
Algumas vezes sou visitada por eles, mas é uma visita rápida. Acho que é para evitar a choradeira.
Sou sempre criança porque foi durante minha curtíssima infância que meus pilares de sustentação foram erguidos. Fortes, firmes, resistentes. Às vezes balançam, atingidos pela força dos ventos e da fúria das águas do mar revoltoso: lágrimas...
Mas não se dobram e não caem. São fortes.
Quando deixamos essa vida somos apenas o que de fato somos: uma vida que nasceu, cresceu, cumpriu seu ciclo e é hora de ir. 
Não importam e não valem de nada toda a riqueza, toda a pompa e circunstância.
Fica tudo por aqui.
                                               





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixem comentários, adoro saber o que pensam sobre o blog. Obrigada ;-)