quarta-feira, 7 de março de 2012

Páscoa & Sonho de Valsa

                                              


Chegamos a São Paulo na época da Páscoa.
Desconhecíamos o hábito de dar e comer ovos de chocolate. Para nós a Páscoa era celebrada com idas à igreja, missas e comer muito peixe seco cozido no leite de coco. 
Na Sexta-Feira Santa ou Sexta-Feira da Paixão não se comia carne vermelha, falava-se muito pouco, não se trabalhava e tudo era feito com cuidado. 
A limpeza da casa só podia ser feita depois do meio dia; nem mesmo varrer o chão era permitido.
Comer também era proibido, exceto para idosos, crianças, enfermos e mulheres paridas.
Mamãe, Mãevelha e meu Paipreto tinham profundo respeito pelo feriado religioso.
Às seis horas da tarde íamos à missa e quando voltávamos para casa teríamos a Ceia de Páscoa: peixe cozido em leite de coco, mungunzá (canjica) cozido em leite de coco e amendoim e cuscuz com coco; tudo era feito com coco.
Eu adorava participar dos preparos e adorava tomar a água de coco e observar meu avô raspar rapidamente e habilmente o fruto. 
Mantínhamos as mesmas tradições e rituais da Páscoa aqui em São Paulo.
Tínhamos uma prima que estava em São Paulo a algum tempo e ela trabalhava num apartamento como diarista. Nossa prima era noiva de um rapaz cearense muito ignorante e trabalhador. Ninguém é perfeito.
Nossa prima me leva para passar alguns dias com ela no apartamento e eu fiquei encantada com aquele tipo de moradia; achei legal, diferente, chique e coisa de gente rica, como dizia papai.
Uma noite nossa prima desce para a portaria do prédio para encontrar o noivo; ele tinha em suas mãos dois embrulhos bonitos envoltos em um cintilante e alegre papel cor de rosa.
O que seria aquilo?
Nossa prima abre o embrulho e me mostra um ovo de chocolate bem cheiroso.
Me encantei com o cheiro do chocolate e com o casal dançante no embrulho cor de rosa.
Que lindo!
Eu olho para o ovo de chocolate sem saber o que fazer e a prima disse que é para comer.
"Pode comer?"
"Claro que pode. É chocolate".
Eu só conhecia o achocolatado em pó que meu avô Paipreto adorava tomar com "leite de moça" diluído em água. Eu não sabia que tinha chocolate em outros formatos, tamanhos, tipos...
Me lambuzo com o ovo de Páscoa e guardo um pedaço para levar para meus irmãos, papai, mamãe e Mãevelha.
Peço à prima que me leve para casa, mas ela diz que não pode; está tarde.
"Iremos amanhã".
Levo o ovo de chocolate e faço a festa com meus irmãos.
E até hoje o ovo de Páscoa envolto na embalagem cor de rosa com casal dançante é o meu favorito. Era o Sonho de Valsa.


                                               

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