quarta-feira, 28 de março de 2012

A Abelhinha Feliz e O Peixinho Sonhador

Autor: Ivan Engler de Almeida. Editora Ática. 1974
                                              


Estava na terceira série do Ensino Fundamental I, o antigo primário.
Era final de ano e já havíamos feito nossas provas bimestrais. Tive notas boas e "passei de ano", como dizemos até hoje, para a quarta-série. Eu tinha nove anos.
No último dia de aula comparecemos com bolos, salgadinhos e refrigerantes; era nossa festinha de despedida do ano que terminava.
Muita choradeira, muitos abraços e muitos "Eu nunca vou te esquecer"; isso porque morávamos todos no mesmo bairro e iríamos estudar na mesma escola no ano seguinte. Mas como alguns gostavam de dizer: "É, mas quem garante que a gente vai ficar junto na mesma classe?". 
Verdade. Isso era uma dura realidade a ser encarada.
Perto do final da festinha nossa professora Dona Maria Tereza pede que nos sentemos em nossos lugares, ela tem algo a nos dizer.
A Professora Dona Maria Tereza tem nas mãos uma sacola enorme com pacotes coloridos dentro e nos perguntamos animados: "Será que é presente pra gente?!".
Era sim.
A professora passa de carteira e carteira e coloca um embrulho bonito e colorido em cima e nos pede para esperar para abrirmos  todos juntos.
Ela diz que podemos abrir e o que se seguiu foi um rasgar frenético de papel com expressões felizes de "Oba! Que legal! Vou começar a ler agora mesmo!".
Eram livros. Lindos livros. Preciosos livros.
Era meu primeiro livro! 
O primeiro livro que eu consegui ler sozinha e sem muita dificuldade para unir as sílabas e formar palavras. Que alegria, meu Deus!
E os livros que ganhamos da professora foram "A Abelhinha Feliz" e "O Peixinho Sonhador, ambos do autor Ivan Engler de Almeida.
Eu ganhei o livro da abelhinha, mas fiquei doida para ler o do peixinho também.
A minha coleguinha ao lado havia ganho o livro do peixinho e o guardou em sua mochila para poder conversar e brincar com os outros coleguinhas; eu pedi a ela para me deixar ler seu livro e o devolveria no final da aula/festa. 
Eu não ia brincar nem conversar com ninguém mesmo! Eu estava doida pra ler!
Li "O Peixinho Sonhador" e adorei. Devolvi o livro à coleguinha e fui para casa para ler o meu livro da abelhinha.
O problema era Mãevelha. "A escola acabou então tu vai ficar em casa pra me ajudar a cuidar dos teus irmãos e das coisas, visse?"
Eu fazia tudo o mais rápido que podia só para me entregar ao prazer da leitura do meu querido e precioso livro, mas Mãevelha percebeu e não me deixava ler. "Mas tu não larga desse livro, não é essa menina? Bote isso pra lá e vá cuidar de seus irmãos, tá na hora da mamadeira da menina nova". Minha irmã Rosi tinha dois anos na época.
Papai e mamãe chegavam do trabalho e ouviram as reclamações de Mãevelha: "Essa menina só quer viver agarrada com aquele livro e não faz as coisas direito. 
E eu só tinha nove anos de idade!
Para escapar da vigilância de minha avó eu preparava a mamadeira de minha irmã e depois de mamar ela iria dormir. Era minha chance.
Segurava Rosi em meus braços infantis e deixava que ela segurasse a mamadeira e, ao lado, sob um fralda, estava meu livro escondido. 
Mãevelha não contava com minha astúcia.
Rosi dormia em meus braços e eu viajava na historinha da abelha que veio da Itália para o Brasil em um navio e que sofrera muito até saber diferenciar as flores naturais das artificiais. As abelhas têm um período curto de vida e então aparece uma "abelha madrinha" e concede cinco anos de vida para a abelha Ítalo-Brasileira.
Eu associava a abelhinha italiana à minha avô Mariana que também viera da Itália para o Brasil.
Mãevelha percebia que eu estava demorando muito para fazer minha irmã e dormir e gritava de lá da cozinha: "Mas tu não fizesse essa menina drumi ainda, Rejane?"
"Não, Mãevelha. Ela ainda está tomando a mamadeira".
Rosi dormia o sonos dos pequenos anjos e eu me deleitava com a leitura do meu adorado livro "A Abelhinha Feliz".




Autor: Ivan Engler de Almeida. Editora Ática. 1974
                                            







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