sexta-feira, 23 de março de 2012

Orgulho de ser Nordestina... Tolerância e Respeito

                                         




Mudamos para São Paulo quando eu tinha apenas seis anos.
Absorvi os hábitos e costumes paulistanos; não tinha mais o sotaque nordestino; não comia algumas das comidas típicas nordestinas como: sarapatéu, buchada, galinha à cabidela (molho pardo), mas até hoje adoro os queijos de coalho, carne seca, tapioca e as deliciosas frutas exóticas de lá.
Mas apesar de absorver a cultura do Sul, como dizia papai, nunca me esqueci de minhas origens e muito me orgulho disso.
Tenho orgulho de ser nordestina. Tenho lembranças, histórias e memórias que ficaram fortemente marcadas em mim apesar do pouco tempo vivido no meu sertão pernambucano.
Sertão seco e vazio, mas que me preenche com muito orgulho e saudades.
Uma vez minha amiga Azenilda, que mora em Recife, me perguntou como é que mantemos nossa cultura nordestina se viemos tão pequenos para São Paulo.
É que papai e mamãe sempre mantiveram contato com parentes e conhecidos pernambucanos e nossa casa era o portal de entrada para o admirável mundo novo que era São Paulo. Explico: Os nordestinos saíam de lá de Pernambuco e vinham para nossa casa e passavam um temporada até seguir seus próprios caminhos.
Bom...
Já ouvi muita gente dizer que criança não lembra de nada; que criança só quer saber de brincar. Não é bem assim.
Eu não era apenas uma criança que só queria saber de brincar, eu era uma criança "velha" para minha idade e sabia das dificuldades pelas quais passávamos. Sabia do árduo trabalho de mamãe, da fragilidade de Paipreto, da severidade de Mãevelha e da inocência dos meus irmãos pequenos.
A secura da vida nordestina somada à força titânica de mamãe, à doçura de Paipreto e à severidade de Mãevelha incutiram em mim o valor e o respeito à vida, à minhas origens, ao meu Nordeste e ao meu Pernambuco.
Tenho familiares que têm vergonha da vida difícil que passaram em Pernambuco e negam aos filhos as histórias de suas vidas. 
Uma vez mamãe falava sobre as dificuldades que passávamos antes de vir para São Paulo e essa nossa parenta pediu para mamãe parar de falar, pois não queria que suas filhas soubessem da verdade.
Tolice.
Leio no jornal Estadão uma matéria sobre um grupo de bobos racistas que apoiava e incentivava a pedofilia e a violência contra mulheres, gays, negros, nordestinos e judeus.
Como alguém pode ser tão estúpido assim?
Esquecem que somos todos humanos e vamos virar comida de minhoca?
Esquecem que debaixo de nossas peles brancas, negras, vermelhas, amarelas correm sangue vermelho?
Esses abestados nunca foram crianças?
Esses infames não têm mãe, avó, irmã, prima, esposa, namorada?
A escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi daqui de São Paulo recebeu várias ameças por pura e simplesmente fazer homenagem aos nordestinos no Carnaval de 2011.
Esse ano, a Unidos da Tijuca do Rio de Janeiro foi a campeã do Carnaval com uma bela homenagem a Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. 
Luiz Gonzaga era nordestino!
Eu sempre digo que quando viajamos para fora do país e somos tratados como criminosos e com muito desrespeito (lembram da senhora que viajou à Espanha?), ninguém quer saber se somos nortistas, sulistas, goianos, paulistas, baianos, gaúchos, o cacete. Para os gringos somos apenas brasileiros picaretas, traficantes de drogas e de mulheres (na maioria dos casos, infelizmente).
Os gringos nem sabem o que é ser carioca, gaúcho, paulista, pernambucano...Os gringos querem é se livrar dos brasileiros e ponto final!
E o fato curioso é que esses racistas e homofóbicos abestados de plantão não são tão "puros" quanto imaginam ou sonham em ser; a maioria deles tem antepassados negros, ou nordestinos ou os dois.
E todo o ódio que nutrem aos gays é porque na realidade têm medo e vergonha de se assumirem gays também. A violência é uma válvula de escape para esses pseudo machões que na verdade têm inveja daqueles que têm a coragem de se assumirem gays e assumirem seu amor por outro homem. Isso para mim é ser Homem com H maiúsculo!
Homem não é ser fortão e sair por aí dando porrada.
Ser Homem não apenas pelo que se tem no meio das pernas.
Ser Homem é ter caráter e respeitar a todos: gays, mulheres, negros, judeus...Não importa o rótulo ou a nomenclatura que se dê; somos todos humanos.
Quando será que perceberão isso?!


                                                  

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