sábado, 17 de março de 2012

Mãe d'água, Açude e Pasta

                                             


Pasta é uma planta aquática de belo verde pálido; parece uma vitória-régia em tamanho menor.
Fica a flutuar na superfície das águas dos açudes e barreiros e quando em grande número, a pasta chega a cobrir toda a superfície e é preciso afastá-la com as mãos.
Os animais da fazenda gostam de ir ao açude para comer a bela planta.
Muitas vezes mamãe me surpreendia na beira do açude; me encontrava agachada, com uma das mãos no joelho e a outra a brincar de fazer ondas nas águas para ver a pasta bailar, e nesse baile, vir ao meu encontro.
Ao meu lado estavam os animais da fazenda a beber tranquilamente sua água e a esperar eu terminar de brincar com a planta para depois colocar-lhes na boca.
Eu adorava brincar com as águas, as pastas e depois dar de comer aos bichos que pareciam já conhecer a rotina do meu brincar.
Mamãe me encontraria na beira do açude, com os animais à minha volta comendo pasta das minhas mãos. Me encontraria toda molhada.
Os animais sabiam que as ondas formadas nas águas trariam a pasta dançante para mais perto deles e de mim. Os animais entendiam aquela brincadeira da dança das águas, das ondas e das plantas.
Mamãe desesperava-se com essa minha teimosia em ir para a proibida, perigosa e atraente água do açude. Desesperava-se com perigo que as águas e os animais ofereciam.
Mamãe não entendia o poderoso fascínio que as águas, os animais e as coisas da Natureza exerciam sobre mim.
Mamãe reclamava com papai, avô José, Paipreto e Mãevelha.
Para tentar me manter afastada do açude, mamãe e Mãevelha diziam que lá morava Mãe d'água, a dona das águas, e que se eu não obedecesse e fosse para o açude, Mãe d'água me levaria com ela.
Eu não entendia aquela preocupação toda de mamãe; ela não entendia que eu só queria brincar com as águas, a pasta e os animais e todos eles queriam brincar comigo.
Mãe d'água não me levaria, Mãe d'água brincaria comigo fazendo as ondas levarem as pastas ao meu encontro na beira do açude.
Mãe d'água sorria...
As águas sorriam...
Os animais sorriam...
Eu sorria.


                                          

Um comentário:

  1. Passo por aqui, antes de dormir, para ler suas histórias de ontem e de hoje...

    Só posso imaginar como foi nascer e brincar numa fazenda, já que cresci somente como bicho da selva de pedra.

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