segunda-feira, 26 de março de 2012

Peixeiro

                                              


Antigamente era comum peixeiros, verdureiros, muambeiros e outros profissionais de vendas oferecerem seus produtos e serviços de porta em porta.
Geralmente gritavam a plenos pulmões: "Pêeeeeeeexêro"
Eles vinham a pés, em carroças e depois em Peruas-Kombi.
Mamãe comprava quilos e mais quilos de peixe. Era muita gente em casa e mamãe era exagerada por natureza.
Tinha o peixeiro da carroça que sempre parava à nossa porta e perguntava se mamãe queria peixe e anos depois era o peixeiro japonês que parava sua Perua-Kombi em frente à nossa casa e chamava: "Olha o peixe, Dona Marlene!".
E lá saia mamãe com uma bacia plástica enorme para poder caber os quatro ou cinco quilos de sardinha, pescada branca, cação e outros peixes que estivessem à venda.
Era um desembesto que só vendo. 
A vizinha econômica, ou "tacanha e miseravi" como dizia papai, vinha comprar peixes e trazia um prato onde o peixeiro colocava  cinco filés de pescada. Era um filé para ela e um filé para cada um dos quatro filhos.
Papai via aquilo e ficava doido: "Oxe! É muita tacanheza, meu Deus do céu. A pessoa comprar só cinco filézinho, contadinho, um pra cada um! Comprava não. Deus me defenda".
Mamãe dizia: "Mas Dedé, tu não quer que a vizinha compre um desembesto de peixe, quer? Ela tem pouca gente na casa, não é que nem a gente, com esse freva de gente pra comer".
Eu e Rosi ajudávamos mamãe a limpar os peixes e depois a temperá-los. Mamãe usava bastante alho, vinagre, sal, pimenta do reino e cominho e os peixes ficavam deliciosos.
Rosi não gostava de sardinha e por isso mamãe comprava pescada branca ou cação para ela.
Eu e meus irmãos adorávamos sardinha. Eu só não gostava da cavalinha. O peixeiro dizia que sardinha e cavalinha eram quase iguais, mas não me convencia.
Quem gostava dessa fartura de peixes eram os gatos que já conheciam o peixeiro e ficavam em cima do muro esperando mamãe entrar com a bacia cheia.
Dávamos a cabeça e as tripas dos peixes para os gatos que se deliciavam com essa fartura e depois passavam o dia, e a noite também, a peidar; (não só só gatos). 
Papai, pra variar, ficava doido: "Bote esses gatos pra fora! Estão com o maduscachorro a peidar. Valha-me Deus!".
Colocávamos os gatos para fora mas "esquecíamos" a janela da cozinha aberta e de madrugada papai levantava virado no Jiraya a procurar os gatos peidões e a nos culpar: "Não sei quem é mais safado: vocês ou esses gatos. Eu não falei pra botá-los pra fora?".
"Mas a gente colocou, pai. Não temos culpa se eles entraram de novo"
"Que não tem culpa o quê?! Estão se fazenda de besta, é? Vou botar esses gatos pra fora de novo e dou doce se eles entrarem outra vez".
Papai dormia e eu levantava e deixava os gatos entrarem e os escondia debaixo das cobertas. Papai levantava e ia lá fora procurar os gatos e não encontrava nenhum, voltava para casa mais uma vez virado no Jiraya, ia ao quarto e levantava nossas cobertas e encontrava os felinos muito bem acomodados ao nosso lado. Os gatos corriam em disparada e nós ouvíamos mais um longo e interminável sermão.
Os gatos de hoje só comem ração, mas na nossa época comiam cabeça e tripas de peixe, resto de comida e até batata doce e abóbora.
E dá-lhe peidorreira.


                                          



Um comentário:

  1. Rapaz... vc tem alguma informação sobre a diferença entre a sardinha e a cavalinha? Em relação a caracteristicas externas, tamanho, sabor... Sempre qui saber.

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