quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Chuchu

                                           


Éramos vizinhos de uma senhora idosa que morava sozinha.
A solitária velhinha gostava de ir à nossa casa para conversar com mamãe, Mãevelha e Paipreto. Falava da vida, do tempo e de seu adorado pé de chuchu.
Tinha muitos cuidados e ciúmes para com a planta.
Paipreto, Mãevelha, mamãe e a velhinha trocavam informações e conselhos sobre como cuidar bem da terra para dar bons frutos. Diziam que cascas de ovo eram excelente adubos naturais, assim como cascas de frutas, verduras e legumes.
Certa vez o dinheiro de São Paulo demorara a chegar e a comida começa a escassear. Nada de chuva e muito menos de emprego. Mamãe começa a se preocupar com os filhos pequenos e com seu pai, meu Paipreto, que tinha a saúde frágil; ela e Mãevelha eram mais fortes e poderiam sobreviver mais um dia com café fraco e chupando pedra sal. O sal usado era o sal grosso e as pessoas chupavam o sal e depois bebiam bastante água e isso enganava a fome. Para as crianças era dada garapa (água com açúcar) para também enganar a fome. Tempos difíceis aqueles, meu Deus.
A noite chega. Temos fome. Meu Paipreto velhinho e enfraquecido. Mamãe com sua força e coragem titânicas decide fazer alguma coisa; garapa e pedra de sal não engana mais a fome; ela é mais esperta.
Mamãe sai e volta dali a alguns minutos e tem nas mãos alguns chuchus bem novinhos e verdinhos. Mãevelha apressa-se em descascá-los. Mamãe ajuda.
Em pouco tempo temos sopa de chuchu.
No dia seguinte a simpática velhinha vai à nossa casa. Ela está muito chateada, triste mesmo. Mãevelha pergunta o que aconteceu e a vizinha conta seu drama: "Apois veja bem, dona Maria. Ontem mesmo meu pezinho de chuchu estava carregadinho, tão bonito; e hoje de manhã fui aguar (regar) as plantas e arreparei que faltava um bocado de chuchu. Me deu uma tristeza tão grande, que só vendo. Queria saber quem foi o infame que teve a coragem de roubar os chuchus de uma pobre velha como eu".
Paipreto, Mãevelha e mamãe se compadeceram da pobre vizinha velhinha e disseram:"Mas não é mesmo dona menina? Eu acho que foi esses menino da rua. Tudo sem criação, sem inducação. Os pais e as mães não criam os filhos direito e é nisso que dá. Ave Maria".
Foi muita cara de pau, eu sei, mas a fome e o instinto de sobrevivência falaram mais alto.
Deus sabia disso.


                                    


                                

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