quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Solidariedade

                                            


Organizava meus livros, meus preciosos livros, e parei para apreciar alguns deles. É um dos meus passatempos favoritos: folhear livros, viajar na memórias e histórias que trazem.
Encontrei um livro escolar de OSPB (Organização Social e Política do Brasil) e outro de Educação Moral e Cívica. 
Chamou-me a atenção para o patriotismo um tanto quanto exagerado desses livros. Era o fim da Ditadura Militar no Brasil e a censura observava e censurava tudo; de jornais a novelas.
O texto do livro de OSPB trazia críticas ao governo comunista de outros países e elogiava escancaradamente o governo brasileiro e a liberdade de seu povo.
As imagens e figuras simples que ilustravam o livro mostravam as pessoas dos países comunistas como um povo frio, triste, fechado, pesado. Eram pessoas carrancudas, que não sorriam e estavam sempre agasalhadas por pesados casacos de pele. O frio era intenso nesses países, por isso o povo de lá era tão triste, pensava eu do alto de meus 14 anos.
Já as figuras e ilustrações referentes ao Brasil mostravam um povo sorridente e feliz cercado por muito sol, calor e praias.
O texto dizia que o povo brasileiro tinha liberdade para ir onde quisesse, já o povo comunista precisava pedir autorização ao seu governo, passar por uma investigação ferrenha para poder receber a permissão para viajar a outro país.
Eu sempre gostava de olhar essas ilustrações e comparar o semblante dos povos. Me entristecia ver aquela imagem carrancuda do povo do frio, como eu gostava de chamá-los.
Em 1980/81 o mundo ouve falar de um político polonês que liderara uma greve geral dos trabalhadores do estaleiro naval de Gdansk (cidade da Polônia). Luta por melhores condições de trabalho, pelos direitos humanos, por uma vida digna e sem repressões. O nome desse polonês é Lech Walesa e ele funda uma organização sindical, o SOLIDARNOSC - Solidariedade. 
Mamãe tinha muita dificuldade para dizer essa palavra e dizia: "Oxe, esse homem de nome estranho com esse sindicato de nome estranho. Podia botar um nome mais simples, solida...Como é mesmo que fala isso?"
Melhor não se meter com política, mãe.
Houve muitos conflitos na Europa Oriental (Leste Europeu), muitos líderes caíram e muitos países se separaram: Tchecosloáquia foi dividia em República Tcheca e Eslováquia, a Iugoslávia foi subdividida em outros pequenos países como Croácia, Sérbia, Montenegro, Bósnia e outros. As Alemanhas foram unificadas. 
Eu gostava de assistir aos telejornais e ler nos livros e jornais sobre esses acontecimentos pelo mundo afora. 
Queria entender porque pequenos países muito menores que o Brasil falavam tantas línguas diferentes, professavam religiões diferentes e tinham culturas diferentes. Eram unidos apenas pela geografia, pelo espaço que ocupavam, mas suas mentes não eram delimitadas por normas e regras impostas por um ditadura. Essas pessoas pensavam, e muito. 
Queria entender o que era comunismo. Papai vivia chamando a mim e à minha irmã Rosi de comunistas. 
Acho que era porque não aceitávamos suas ideias machistas-xiitas e questionávamos suas decisões e imposições.
Acho que para papai ser comunista era ser "reberdo, oreiúdo, queixo duro, rispi". 
Traduzindo: rebelde, orelhudo, queixo duro, ríspido.
As "inguinóranças" de papai dariam um belo livro e deveriam entrar para os anais da História.


                                                 Minha pequena estante para meus preciosos livros.
Branca Maria e os livros
                                       



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