quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Maçãs

                                          


Todos os sábados íamos à feira.
Mamãe sempre levava um de nós para ajudá-la com as sacolas.
Às vezes mamãe comprava só o necessário para a semana e outras vezes, quando o dinheiro sobrava, comprava frutas que para nós era coisa de luxo, só rico podia comprar.
Nossa feira seguia uma rotina: primeiro era comprado o mais pesado, como batatas, cebolas e laranjas, e depois o mais leve, como tomates e verduras.
Começávamos pelas batatas que eram compradas de uma senhora portuguesa que sempre chamava mamãe de patrícia.
Mamãe tinha uma inegável cara de portuguesa, com certeza.
Depois das batatas comprávamos as laranjas, bananas, tomates e verduras. Quando sobrava, éramos presenteados com pastel e caldo de cana. 
Naquela época era tão saborosa essa cominação: pastel + caldo de cana. Hoje parece que perdeu um pouco do sabor.
Gostava de passar pelas barracas de frutas e admirar aquela variedade de cores, cheiros e sabores. Uvas, abacaxis, peras, goiabas, mamões, maçãs. Ah... as maçãs. Eram um luxo.
Laranja e bananas...Eram o que podíamos comprar.
Perguntava a mamãe: "Mãe, sobrou algum dinheiro?"
"Sobrou não, filha. Por quê? O que você queria comprar?"
"Maçãs, mãe".
"Tem nada não, filha. Mas tenho fé em Deus que um dia vou poder comprar todas as frutas que meus filhos pedirem".
Olhava mais uma vez para a barraca de frutas e me encantavam aquelas maçãs vermelhas, cheirosas.
Eu pensava comigo: "Um dia, quando crescer, vou trabalhar e vou ter dinheiro para comprar muitas maçãs e vou ajudar mamãe".


                                           

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