quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Cisma

                                                  


Como já disse Euclides da Cunha no livro Os Sertões, "O nordestino é antes de tudo um forte".
Fome, seca, miséria, descaso político, preconceito, migrante.
O nordestino tenta até o último instante. Aguenta. Crê. Confia. Tem esperança.
E se ali não dá mais, o jeito é procurar viver em outro lugar, principalmente em Sum Paulo.
O nordestino não tem medo, ele tem cisma. 
Medo é coisa de cabra frouxo. Nordestino tem é sangue no olho!
Tem palavra, tem fé, tem coragem.
Tem que ter, se quiser sobreviver.
Conheço um senhor já velhinho, de brancos e fofos cabelos de algodão, pele rosada, olhos claros e bochechas de Papai Noel.
É o senhor José e ele é da Bahia. O baiano. Seu Zé da Bahia.
Seu Zé da Bahia é forte.
Nordestino quando está um pouco acima do peso diz que está forte; gordo não.
Seu Zé da Bahia usa roupas brancas e por ser forte, os botões de sua camisa não fecham direito. A camisa fica meio repuxada. Seu Zé disse que faltou pano para costurar uma camisa maior. Tá certo.
Seu Zé contava um causo e ia dizendo que tinha ficado com medo; parou de falar, pensou um pouco e disse: "Com medo não minha filha, fiquei com cisma. É diferente, viu?"
Sim, é diferente.
Não estou com medo, só com cisma.
Mas seu Zé da Bahia já me disse que não carece de ter medo e nem mesmo de cisma. Carece não.
Seu Zé da Bahia me entrega nas mãos de Deus, de Nosso Senhor do Bonfim, de Nossa Senhora da Abadia, das Candeias e de todos os trezentos e sessenta e cinco santos das trezentas e sessenta e cinco igrejas da Bahia.
Cisma pra quê?
Carece não.


                                          

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