terça-feira, 8 de novembro de 2011

Jardineira





Chamamos de jardineira o que algumas pessoas chamam de macacão. É a roupa que tem duas alças que se cruzam nas costas e pode ser calça, bermuda ou saia.
Eu tinha uma jardineira e adorava. Mamãe tinha um trabalho enorme para me convencer a usar outra roupa quando ela queria lavar a minha adorada jardineira.
Eu esperava impacientemente a minha roupa favorita secar para eu poder tomar banho e então vesti-la. Não queria nem que Mãevelha passasse a jardineira com aquele ferro pesado cheio de brasas quentes. Não tinha eletricidade na época e usávamos recursos simples e básicos de sobrevivência. 
O ferro servia para passar roupa e fazer musculação também, de tão pesado que era.
Levantava-se a tampa do ferro, colocava as brasas e depois abaixa a tampa e a prendia com um prego longo. Quando sentia-se que a brasa estava amornando, abanava-se a parte traseira do ferro com um abanador de palha.
Era um processo delicado, pois tinha que tomar cuidado para não deixar as brasas esfriarem e não deixar as cinzas sujarem as roupas.
Eu esperava e observava aquele processo todo e sempre de olho na minha jardineira para depois tomar meu banho. 
A jardineira estava pronta, limpinha e passadinha e eu tomada banho para então vestir a minha roupa mais favorita do mundo!
Paipreto me observava e perguntava se eu não queria vestir outra roupa; ele sabia qual era a resposta. 
Eu crescia e a jardineira começava a ficar pequena em mim. Mamãe pede à tia Antônia para reformar minha roupa e a tia aumenta o comprimento das alças e a barra da saia. 
Tia Antônia sempre foi boa costureira.
Ainda vesti aquela jardineira por muito tempo. Cada vez que a vestia era invadida por uma felicidade enorme. Mamãe, Mãevelha e tia Antônia não entendiam o meu fascínio para com aquela jardineira.
Depois de vestida, calçada e de ter penteado e arrumado meus cabelos cacheados, eu ia caminhar pelas ruas com meu Paipreto ao meu lado. 
Eu com as mãos nos bolsinhos da jardineira e meu avô ao meu lado, sempre paciente, protetor, acolhedor.
Eu parava para ver tudo, observar, perguntar. Me encantei com uma belíssima flor de maracujá e meu avô pediu licença ao pé de maracujá, tirou sua bela flor e me deu.
Cheirei a flor e a coloquei no bolso da minha adorada jardineira para levar para casa e mostrar para mamãe, Mãevelha e tia Antônia. 
Uma flor de maracujá, uma jardineira, eu e o meu Paipreto.



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