domingo, 6 de novembro de 2011

Rarical

Deixamos nosso Pernambuco em 1973, logo após a partida de meu amado avô Paipreto.
Chegamos à terra da garoa, nosso "Santo São Paulo", como dizia mamãe e demos início à nossa nova vida em terras paulistanas.
Chegamos eu, mamãe, Mãevelha e meu dois irmãos mais velhos: Naldão e Rogério, o Bello.
Naldão tinha a saúde frágil e tinha dificuldade para se alimentar. Rogério e eu éramos magricelas, "pau de virar tripa", só tínhamos osso, cabelo e piolhos. (depois eu falo sobre os insetos chupadores de sangue de cabeças inocentes. Que nojo!).
Mamãe fica preocupada com nossa saúde e procura saber da vizinhança onde tem uma farmácia no bairro; hospitais só os públicos e todos longe. O transporte público para nosso bairro era difícil, demorado, desanimador. E não mudou muito não, até hoje o busão demora um tempão.
Mamãe é informada de que tem uma farmácia e um jovem farmacêutico muito bom, quase um médico. Esse farmacêutico, o Pedro, atua até hoje e é ele que me aplica a injeção mensal de Sandostatin LAR.
Mamãe tinha muita confiança nele e a qualquer problema de saúde que surgisse, lá ia ela falar com Pedro da farmácia.
Nós dizíamos para nossa mãe levar sua saúde a sério, procurar um médico de verdade. Pedro era farmacêutico, não podia fazer muita coisa.
Mamãe vai até a farmácia e relata o caso dos filhos magrinhos recém chegados do nordeste e sai de lá com dois frascos de remédio: Rarical B12 na embalagem cor de rosa e outro na embalagem azul. Nunca soube o porquê das cores do remédio; será que era para meninos e meninas, separadamente?
Tomamos o remédio; uma colher de sopa antes das refeições. Mas acontece que gostamos muito do sabor do remédio e um dia Mãevelha pega a mim e a Rogério virando o frasco de Rarical goela abaixo. Delícia!
Nossa avó nos dá broncas e conta tudo para mamãe.
Elas resolvem esconder o remédio e só nos dar nas horas marcadas.
Mãevelha está lavando roupas e nós estamos sós dentro de casa; falo para Rogério vigiar os movimentos de nossa avó enquanto eu procuro o remédio.
Achei. Chamo meu irmão e entornamos o Rarical. Bebemos tudo.
O resultado foi variado: broncas, chineladas e dor de barriga. Mamãe fica preocupada com uma overdose de remédio e os efeitos que poderia causar, mas nada de mais aconteceu; estamos todos vivos hoje, graças a Deus. Não muito saudáveis, mas vivos.







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