terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tempo de Despertar



Já falei sobre minha vizinhança barulhenta e seu gosto musical que não podemos discutir, só lamentar.
São Paulo é a cidade que não pára e, igual a Nova Iorque, nunca dorme.
Nem São Paulo, nem Nova Iorque, nem eu.
Moro num bairro de que de bucólico e com inúmeras chácaras passou a barulhento, agitado e invadido por caminhões... também.
Às seis horas da manhã são iniciados os sons típicos de um bairro tomado por transportadoras; são os apitos e ruídos exagerados avisando que o veículo está saindo de marcha à ré; os rádios ligados em emissoras especializadas em tocar músicas românticas dedicadas (música de dor de corno mesmo) a quem passa mais tempo nas estradas e ruas do que em casa.
O alto volume dos rádios somados às vozes dos motoristas e ajudantes que cantam juntos as melodias "corníferas" são um convite ao despertar.
Sim, temos que atender ao chamado, ao despertar. É tempo!
É tempo de levantar da cama muito p. da vida e xingar (silenciosamente e secretamente) os filhos duma égua manca que não deixam ninguém dormir aquele soninho gostoso das primeiras horas da manhã.
Finalmente abaixam o volume do rádio e iniciam um "talk show" ao vivo e na rua mesmo. São conselhos, fofocas, indignações e muita conversa.
Um receita um remédio infalível para o outro que está com uma tosse insistente e aconselha: "Olha, tu tem que tomar esse remédio diariamente no dia a dia; todo dia!"
Um outro fala do frio em plena Primavera e já bem próximos que estamos do Verão:
"Oxe, mas que frio da gota é esse? Isso num tá certo não! A gente fica com as zureia ardendo de frio".
Mais um outro: "Acabou-se o café, foi? Quem tomou tudo? Ah..foi fulano, é? Fio duma quenga! Não deixou nenhum pouco pra gente".
Muito homem junto aguardando os caminhões ficarem prontos para iniciar mais um dia de trabalho nesse santo São Paulo de trânsito enervante, estressante, arretado mesmo!
Nesse ínterim, levanto para tomar os remédios e pegar o jornal. Se deixar para depois o jornal terá a mesma sorte das minhas plantas que ficavam na garagem.
Volto para a cama para tentar dar uma cochiladinha antes de me levantar de vez. Não dá.
Os homens românticos e conselheiros dos caminhões já se foram mas agora tenho três gatas e um gato em cima de mim me massageando, me lambendo com suas línguas ásperas, puxando e mordiscando meu cabelo e todos miando num coral desesperado. 
Me levanto de novo e vou colocar comida, trocar a água e a areia sanitária deles. Pronto.
Volto para cama de novo, mas...Lá vêm os quatro correndo, pulando em cima da cama, disputando salto à distância e trocando tapas e mordidas para ver quem vai se deitar mais perto de mim. Cada um tem seu lugar demarcado, mas sempre tem o outro que quer ficar mais perto e aí inicia-se o conflito territorial.
Tento apaziguar e digo a eles que têm duas opções: ou ficam quietos ou vai sair todo mundo dali! Viro de lado e fecho os olhos e os miados reiniciam. Mas agora não são miados de fome ou de sede, são miados dengosos, carinhosos, charmosos e muito manhosos.
É tempo de despertar.
Agora é a vez de cuidar das plantas.





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