quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Maldita Acromegalia

                                         


As últimas semanas têm sido difíceis para mim; muitas dores, muito vai vem para consultórios, laboratórios e farmácias.
Ela, a Acromegalia, bem que poderia se resumir a apenas um tumorzinho básico ha hipófise (base do cérebro), mas não, ela tem que fazer estragos. Muitos estragos.
Estragos físicos que causam dores físicas e emocionais. Acho que esta última dói mais.
E para ajudar ao preconceito e à ignorância das pessoas, vivemos na sociedade da beleza adquirida a todo custo.
Imagina para uma pessoa que nunca foi bonita fisicamente, de repente se encontra vítima de uma doença que a deixa menos bonita ainda. Ferrou!
Se fosse em outros tempos, no tempo do "Freak Show" (Circo dos Horrores), acromegálicos seriam exibidos como criaturas deformadas e/ou estranhas. Já li sobre casos de pessoas expostas nesses circos; pessoas pequenas demais, grandes demais, com pés ou mãos ou o corpo deformados, pessoas com o rosto coberto de cabelos, enfim, uma infinidade de doenças não descobertas e não tratadas que transformavam essas pessoas em "monstros" e vítimas de preconceito, intolerância e até ódio por parte das pessoas "perfeitas". Mas quem é o monstro da história? O doente vítima de uma doença estranha ou o saudável que visava lucro financeiro explorando essas pobres vítimas?
Realmente, o ser humano é o pior animal de todas as espécies. Criatura mesquinha, tacanha, má, cruel. Nem todos, é claro. Mas tem muita gente ruim, fútil, frívola e vazia que me faz cada vez mais me apegar aos meus gatos.
Sei de caso de acromegálicos que evitam sair de casa com medo dos olhares preconceituosos e eu sei bem o que é isso. Já fiquei dias pensando e me sentindo assim, mas decidi não dar razão à essa gente pobre de espírito. 
Se elas podem sair às ruas, eu também posso.
Se elas têm contas à pagar, eu também tenho.
Se elas precisam ir ao supermercado, eu também preciso.
Acromegálicos trabalham, comem, dormem, se cansam, sonham, se entristecem e fazem e sente tudo o que um não acromegálico faz e sente. Então, qual é a diferença aqui?!
Só porque temos um rosto grande demais, pés grandes demais e mãos grandes demais?!
Talvez nossa grandeza física seja maior que a pequenez de caráter de vocês perfeitos.
Como eu disse acima, vivemos na sociedade da beleza; todo mundo tem que ser, ficar ou estar bonito, custe o que custar. Vejo absurdos como o de pessoas viajando a países vizinhos para se submeterem à cirurgias plásticas com médicos suspeitos.
Pessoas deformando o rosto com aplicações de substâncias que as deixam sem expressão, como se o rosto estivesse congelado. Pra que isso, meu Deus do céu? Fazem isso para agradar a quem?!
Concordo que devemos andar limpinhos, ajeitadinhos e até bonitinhos, mas sem exageros.
Há uma proliferação de gente magérrima e aloirada, como se estivéssemos em um país nórdico. Brasil, país tropical. Abençoado por Deus e bonito por natureza...
Vejo pessoas cuja cor da pele não combina com o loiro Xuxa dos cabelos, mas lá vão elas desfilando suas madeixas alouradas que as faz parecer com micos leões dourados. Perdão pela comparação, mas não dá!
Outra coisa que me incomoda também é o oposto da busca frenética por beleza: gente se destruindo, se matando aos poucos num suicídio sem noção.
Pessoas comendo por duas, por três; como se não houvesse amanhã.
Crianças obesas e já diabéticas e hipertensas. 
Doenças da modernidade? Sim, talvez. Mas não culpemos os tempos modernos pela nossa incapacidade de controlar nossa gula.
Sei que tem gente com problemas emocionais e hormonais e respeito isso, mas vejo muita criança que não come se não tiver ketchup, mostarda e refrigerante na mesa. Essas crianças não gostam de frutas e verduras que nunca experimentaram, mas só de ouvir falar o nome já dizem que não gostam. Já disse, as crianças aprendem com os adultos.
Sei lá...
Acho que estou meio estressada hoje. As dores não me deixam dormir em paz e não me permitem fazer coisas simples que antes eu fazia: abaixar, levantar, subir em escadas, correr, andar rápido, fazer minhas caminhadas pelo bairro.
A Acromegalia roubou isso de mim e aos poucos rouba mais.
Hipertensão, diabetes, dores de cabeça, artrose, dores nas costas, estômago complicado, coração grande - literalmente - , alguma tristeza, alguma revolta e muitos "porquês".
Sim, sei que têm doenças piores, pessoas em piores situações, mas sou humana e tenho direito de falar, reclamar e questionar aquilo que me faz mal, que me tira o gosto de viver, o gosto de fazer as coisas que antes eu gostava tanto. 
Os olhares estão cada vez mais agressivos e mais demorados. Os cochichos e as risadinhas me incomodam. 
Todo santo dia a mesma ladainha.
Hoje fui ao supermercado para comprar frutas, verduras e legumes que gosto tanto e as pessoas me olhavam como se eu fosse um ser de outro planeta. Olham e quando olho de volta elas disfarçam, fingem que estão escolhendo alguma coisa. Outras piscam para seus/suas acompanhantes e olham em minha direção.
Será que essas pessoas nunca ficaram doentes?
Será que essas pessoas não têm problemas?
Todo mundo vai morrer um dia e vai virar comida de minhoca. Os vermes devorarão a carne podre de ricos e pobres, feios e bonitos, palmeirenses e corinthianos.
Amanhã vou buscar meu remédio (Sandostatin LAR/Acetato de Octreotide) na Farmácia Alto Custo e depois irei ao ortopedista para iniciar o tratamento da artrose no meu joelho direito. Serão três injeções aplicadas diretamente no joelho. Parece estranho, né? Mas para quem já teve agulhas enfiadas na veia, no braço, na barriga, na coxa, na parte de trás do braço e na nuca, mais umazinha no joelho não é nada demais. 
Acho que é por isso que eu tenho medo de fazer Acupuntura. É muita agulha.


                                               











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