sábado, 5 de novembro de 2011

Canteiros

Cravina


Ouvia Fagner cantar maravilhosamente a belíssima versão que ele fez do poema "Marcha" de Cecilia Meireles.
Identifico-me com a letra da música.
Ouvia "Canteiros"  e fui cuidar do meu pequeno canteiro, que aos poucos vou ampliando. Contando, claro, com a colaboração nem tanto colaborativa de meus gatos, principalmente de Aurora, a Terrível.
Fui surpreendida pela bela presença de uma flor fúcsia, ou rosa forte, ou pink, ou cor de bunina, como dizia mamãe. Segundo fui informada, essa plantinha de belas flores rosa choque recebe o nome de flor de maio. Mas estamos em novembro!
Deve ser o aquecimento global, penso eu.
Chamou-me a atenção as pequeninas e delicadas flores coloridas da planta que mamãe e Mãevelha chamavam de bunina. Eu só conhecia de uma cor, mas pude ter o prazer de ver que há cores e tons variadíssimos e belíssimos.
Herdei de mamãe e de minha avó o gosto, o cuidado e até o ciúme pelas plantas.
Mãevelha tinha cuidado especial para com suas cravinas (pequenos cravos). Ela as cultivava em delicados tons de rosa bebê ou rosa clarinho. Colhia suas flores favoritas e as levava para a Igreja Santa Rita de Cássia. Lá chegando, depositava suas cravinas queridas e tão bem cuidadas aos pés das santas. Nossa Senhora, Santa Rita de Cássia e se sobrasse algumas flores, colocava uma para cada santo da ala masculina.
Acho que Mãevelha era feminista.
Tia Anália também gostava de plantas e tinha o mesmo ciúme genético que está contido no DNA da família. 
Quem realmente gosta de algo, alguém ou alguma coisa, cuida de verdade. Valoriza. Respeita. Se preocupa. Sabe que as coisas boas dependem de nosso cultivo. E falo isso não apenas no sentido florido. Literalmente.
Tia Anália tinha um pequeno quintal cheio de plantas e algumas cobiçadas por mim. Tinha um pé de pitanga, espada de São Jorge, uma pequena horta com coentro, cebolinha verde, salsinha e um lindo pé de cróton. Mas nós falávamos "cróti".
Um dia fomos à casa da tia e a encontrei regando suas preciosas plantas. Pedi a ela uma muda do cróton, mas ela disse que não poderia arrancar a mudinha porque iria prejudicar toda a planta; eu teria que esperar pela chuva. Acreditamos que as plantas devem ser podadas e transplantadas na época de chuva, pois o choque será menos intenso para planta.
Como pode-se ver, também nos preocupamos com o bem estar psicológico das plantas.
A desculpa de tia Anália não me convenceu. Esperei o momento certo e quando ela estava na cozinha preparando o café, aproveitei e arranquei uma mudinha do cróton. Ao lado da casa havia um terreno baldio; deixei a mudinha lá para levá-la quando fossemos embora e para não levantar suspeitas.
O tempo passou, as chuvas foram e voltaram a seu tempo e um domingo tia Anália vai nos visitar. Ela caminha pelo longo quintal de terra e para a cada planta para admirá-la e fazer comentários. Lá está o belo pé de cróton; forte, bonito e colorido. Sempre gostei da mistura de tons fortes e intensos de vermelho, verde e branco.
Tia Anália elogia a planta: "Mas que pé de cróti tão bonito". 
Eu falo a verdade e a tia balança a cabeça: "Mas tu não tem juízo mesmo!".
"É que planta roubada pega mais fácil e fica mais bonita do que a planta dada". 


Bunina




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