quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Leite

                                            


Tenho certa intolerância à lactose. Hoje está mais controlada, mas quando criança não podia tomar leite de vaca. O leite me "ofendia" (fazia mal), como dizemos em Pernambuco.
Ironia eu ter nascido numa fazenda com várias vacas leiteiras!
Papai trocava um daqueles galões grandes com leite de vaca por alguns poucos litros de leite de cabra. Na vizinhança havia uma família que criava cabras e papai fazia o escambo leiteiro.
Na época das chuvas, do "inverno" para o sertanejo, havia fartura de leite mas quando a seca chegava ficava difícil tanto a nossa alimentação quanto a do próprio gado.
Mamãe e Mãevelha faziam adaptações e substituições lácteas para mim; ora era leite de jumenta, ora era leite de coco, papa de farinha (mingau de farinha de mandioca cozida com água e açúcar), suco de laranja lima e chazinhos.
Eu gostava e gosto até hoje de coco.
Mãevelha raspava o coco, o deixava de molho em água quente por algumas horas e adicionava uma pitada de sal que era para "soltar" o leite. Passado o tempo necessário, ela coava o leite e com as raspas do coco fazia deliciosas cocadas.
Eu teria leite por alguns dias.
Hoje posso tomar leite de vaca em poucas quantidades mas não posso abusar dos laticínios. Se tomo iogurte, por exemplo, evito queijos ou requeijões. Se abusar da lactose a consequência são cólicas, dores fortes no estômago e uma produção sonora de gases que acordam vizinhos e companheiras de quarto de hospital. Explico.
Primeiro vêm as dores/cólicas e em seguida a peidorreira. Desculpem, mas como diz tia Antonia, outra produtora de gases: "Antes morra você com o fedor do que eu com a dor".
Que família linda eu tenho!
Uma noite não conseguia dormir com o barulho da TV do meu simpático vizinho. Era mais de meia noite e o som de musiquinhas infantis àquela hora, como não conseguia dormir, tomei um copo de leite gelado e fui para a cama. 
A revolta estomacal começou e o gases sonoros pediam para sair. Libertei-os. Ouvi o vizinho dizer: "Nossa!"
No hospital tenho como companheira de quarto um senhora faladeira, hipocondríaca e sem educação. Falava em três celulares, fingia dor e chorava para comover médicos, enfermeiros e quem viesse vê-la.
Eu queria assistir o programa CQC mas a infame cismou de desligar tudo e dormir. Isso porque ela havia dito que tinha insônia e assistia TV a noite toda. Tá.
Para o lanche da noite escolho iogurte entre o chá com bolachas. Já tinha pensado na minha vingança contra a linguaruda.
A arma química natural é lançada e em poucos segundos a bela adormecida levanta-se, abre a janela e vai para o banheiro. "Tá muito abafado aqui, né?"


                                         



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