segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Fim de tarde e a chuva no Corinthians



Uma amiga e colega de faculdade falou sobre a mãe, que faleceu há dez anos.
Mamãe também faleceu há dez anos.
Saudades, alguma lágrimas e boas lembranças.
Mamãe adorava lavar roupa; tinha um cuidado e um capricho tremendos. Mamãe separava roupas de cor, roupas brancas, toalhas de banho, de cozinha...Ela ficava o dia inteiro entregue à essa atividade.
Eu ajudava mamãe a estender as roupas no varal; ela era muito baixinha, apesar de dizer que em sua "idientidade" marcava a altura de 1.65cm. Aonde isso, mãe?! Só se for de largura!
Mamãe ria.
O longo quintal de terra formava um corredor cercado por veredas de plantas das mais variadas espécies.  Dálias, capim santo que alguns chamam de capim limão, crótons cuja mudinha fora roubada de tia Anália, a pequena horta de mamãe de onde ela tirava os temperos naturais para temperar o feijão e as carnes. Mamãe temperava e preparava carnes como ninguém; e os pés de cana ( a planta mesmo e não uns tios nossos que moravam conosco).
Havia também os varais e os "paus de varal". Era para levantar bem alto os varais e assim secar as roupas e mantê-las longe do chão e do alcance da criançada que adorava andar entre os varais e deslizar as mãos pelas roupas estendidas.
Era fim de tarde e mamãe olhava para o céu azul e as nuvens brancas e fofas e dizia:
"Vamos tirar as roupas do varal que lá vem chuva".
"Oxe! Chuva, mãe! Com esse sol forte nessa tarde tão bonita?"
"Chuva sim, meus filhos. E ela já está no Corinthians"
Morávamos atrás do Corinthians e de nossa rua podíamos ver o clube e os carros a passar na Marginal Tietê. O Corinthians também era referência meteorológica para mamãe. Olhando para o clube ela fazia a previsão do tempo. 
Ajudávamos mamãe a tirar a roupa do varal e dali a pouco sentíamos a forte presença dos ventos que vinham anunciar a mudança do tempo e trazer as chuvas previstas por mamãe.
A vizinha chamava as filhas para ajudá-la também com suas roupas no varal; "Corre meninas que a chuva está chegando. Dona Marlene estava certa".
Mas estava uma tarde tão bonita, um céu tão azul, de onde vem essa chuva assim tão de repente? Perguntávamos nós e a vizinha.
"De repente não! A chuva já estava ali no Corinthians faz é tempo; só estava esperando a gente tirar a roupa do varal para ela vim pra cá".








    

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