sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Fábrica & Firma

                                             


Quando chegamos a São Paulo mamãe conseguiu um emprego numa fábrica.
Eu andava pelas ruas do bairro com mamãe e observava tudo à minha volta. Tudo era novo para mim. 
Observava as chácaras, a igreja Santa Rita em construção, as ruas de terra, os terrenos baldios com cavalos, cabras e jumentos pastando, as casas simples da parte baixa do bairro e as fábricas. 
Eu estranhava o tamanho e a cor dos prédios das fábricas; eram todos grandes, feiosos e cinzentos. E todos seguiam a mesma planta, o mesmo desenho. Eu achava que todas as fábricas eram iguais.
Passei hoje por algumas ruas do meu bairro e reparei em alguns prédios que me lembraram as fábricas e firmas antigas. 
Mamãe andava comigo e dizia: "Nessa firma trabalha sua prima Ivete. É uma fábrica de papelão. Naquela firma trabalha seu pai. É uma fábrica de ferro (metalúrgica)".
E me habituei às palavras firma e fábrica para designar o local de trabalho de alguém.
Estranhei quando o irmão de papai, o tio Manoel Soares, chegou a São Paulo e foi trabalhar numa transportadora.
Mas transportadoras são firmas? São fábricas do quê?
Eu via as pessoas caminhando pelas ruas para irem ao trabalho e me entristecia um pouco vê-las passar pelos portões das firmas e ficarem um tempão lá dentro. Sairão quando? Só de noite? É muito tempo trancado lá dentro e longe da família. Pensava eu.
Eu pensava que essas pessoas não eram humanas, não tinham sentimentos. Já tinham se transformado em robôs trabalhadores, só isso. 
Eu pensava cada coisa...





                                    

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