sábado, 21 de janeiro de 2012

Sr. Rufino

                                           


Sr. Rufino era um alfaiate.
Sr. Rufino era de um país latino americano, não me lembro qual. Lembro de seu sotaque hispano, muito bonito e delicado.
Hoje em dia são poucos os alfaiates de bairro, mas ainda encontramos costureiras.
O nome alfaiate caiu em desuso e sofreu variações: estilista, designer de moda, fashion designer e outras frescuras.
Sr. Rufino era casado com uma brasileira tagarela e tinha duas filhas de nomes estranhos e quase impronunciáveis. A "culpa" pela escolha dos nomes foi da esposa e não dele. Os nomes das meninas eram versões femininas de nomes masculinos dos astronautas americanos que pisaram na Lua.
Tem gosto para tudo nesse mundo e não sei se isso é felizmente ou infelizmente.
Bom...
Fui com mamãe à casa do Sr. Rufino para consertar e costurar algumas calças de papai. Naquela época os homens usavam calças de tecidos tradicionais e o jeans era tido como roupa de jovens rebeldes.
Chego com mamãe á casa do Sr. Rufino e o encontramos alinhavando uma calça. Mamãe me manda brincar com as meninas dele, mas eu preferia observar o trabalho do alfaiate. Eu sempre gostei de observar para aprender.
Sr. Rufino percebe meu interesse e pergunta se eu sei costurar e digo que sei um pouco porque aprendi com minha avó Mãevelha e com uma prima nossa que bordava muito bem, a Ivete.
Eu gostava de costura e bordados e essas coisas.
Sr. Rufino me entrega uma calça e me pede para alinhavar. Ele diz que antes de fazer a costura final é preciso alinhavar para evitar erros e assim poder desmanchar sem estragar a costura ou o tecido.
Termino de alinhavar a calça e entrego ao Sr.Rufino para análise; queria muito saber sua opinião. Ele diz que ficou boa e que se eu quisesse e mamãe permitisse, eu poderia frequentar sua casa para aprender a costurar de verdade. 
Mas mamãe não deixou e explicou o motivo: "Ela não pode Sr. Rufino. Ela tem que cuidar da casa e ajudar a avó a cuidar dos irmãos menores".
Eu fiquei muito triste, chateada e revoltada, mas o que eu poderia fazer? Que autonomia ou autoridade tinha eu do alto de meus 9 ou 10 anos?
Algumas vezes me demorava no caminho da escola para casa só para passar em frente à casa do Sr. Rufino e me imaginar costurando naquelas máquinas de costuras tradicionais e outras de nome estranho.  Eu gostaria.


                                           





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